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Manual em disseminação | Germinar um banco de sementes

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manual em disseminaçãomanual em disseminação

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manual em disseminaçãoGerminar um banco de sementes (2021-23) foi um projeto financiado pelo programa Bip/Zip Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa, da Câmara Municipal de Lisboa, na dimensão “Boas práticas”.

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manual em disseminação©Germinar um banco de sementesLisboa, 2024coordenação do projeto: Maria João Fonsecacoordenação executiva: Maria João Fonseca, Joana Peres edição: Maria João Fonseca, Joana Peres textos: António Alexandre, Inês Costa Pereira, Israel Guarda, Joana Andrade, Joana Peres, Luísa Passos, Luís Mocho, Manuela Sim-Sim, Maria João Fonseca, Rui Alves, Susana Pintoilustrações: Luísa Passosrevisão: Joana Peres, Maria João Fonseca projeto gráco: Carlos Bártolo§§§ exemplaresimpressão: ACD printisbn: 978-989-33-5368-4depósito legal: AgradecimentosEste manual resulta da experiência adquirida ao longo de dois anos (2021-23) do projeto “Germinar um banco de sementes”, desenvolvido pela associação margens simples. Agradecemos a todos os que contribuíram para a sua realização. Em primeiro lugar, aos mais de 250 alunos e aos professores do Agrupamento de Escolas Padre Bartolomeu Dias [seis turmas do 2.º ano da Escola Eng. Ressano Garcia e quatro turmas do 6.º ano da Escola Josefa de Óbidos] e do Agrupamento de Escolas Manuel da Maia [duas turmas do 2.º ano da Escola Vale de Alcântara, duas turmas do 1.º e 2.º anos, e outra do 3.º e 4.º anos, da Escola Fernanda de Castro, e de três turmas de 6.º ano da Escola Manuel da Maia], que desde o início acreditaram no projeto e se envolveram ativamente. Não esquecemos aqueles que participaram nas atividades paralelas, nos bairros, como os dias abertos nas escolas, as caminhadas etnobotânicas, as conversas sobre sementes e agroecologia, e as mais de 174 pessoas que solicitaram e partilharam sementes através do website germinar.pt.Agradecemos profundamente aos nossos parceiros, nomeadamente aos Agrupamentos de Escolas com quem trabalhámos em Lisboa, que, nas figuras dos diretores Jorge Nascimento e Luís Mocho, integraram o projeto no horário letivo de 20 turmas ao longo de dois anos letivos; ao Banco de Sementes A.L. Belo Correia, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, pela responsabilidade da Doutora Manuela Sim-Sim, que abriu as portas do maior banco de sementes autóctones do país e partilhou o seu conhecimento com todos os alunos. Estamos gratos a todos os que acreditaram no projeto e se associaram a ele, como a Caravana Agroecológica (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), a Rede de Bibliotecas de Lisboa, a empresa Sementes Vivas, S.A., a Valorsul e o grupo Carmo Wood.Por fim, agradecemos o apoio financeiro do programa Bip/Zip, dimensão Boas Práticas, da Câmara Municipal de Lisboa, sem o qual não seria possível a implementação do projeto, e em particular a colaboração da gestora de projeto Rita Moura. Juntos, criamos um impacto significativo na preservação de sementes e na educação ambiental. Obrigado por fazerem parte desta caminhada.

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apresentaçãocontributos Luís MochoManuela Sim-SimSusana PintoIsrael Guardamanual 1. Introdução ao projeto “Germinar um banco de sementes”exercício 1. Conhecer as sementes e semear2 a 4. Desenho da natureza e ilustração científica exercício 2. Prancha Botânicaexercício 3. Desenhar num dia de chuva exercício 4. Não estamos sozinhos no campo5. Desenho e construção da hortaexercício 5-1. Cocriação do desenho da hortaexercício 5-2. Criar o solo 6. Florestas exercício 6. Garrafão-floresta7. Solo e compostagem exercício 7. Minhocas e compostagem8. Plantação e consociaçõesexercício 8. Plantação e sementeira em consociação9. Manutenção, água e manta-mortaexercício 9. Monda e manta-morta10. Consumo de proximidade (a importância das cadeias curtas de abastecimento) exercício 10. As voltas que a comida dá11. Biodiversidade e refúgios animais exercício 11. Criação de refúgios12. Pragas e repelentes naturais exercício 12-1. Controlo de pragas: Plantação para prevençãoexercício 12-2. Controlo de pragas: Inseticida natural13 a 15. Da horta ao prato exercício 13. A Toalha de Mesaexercício 14. O Pratoexercício 15. O Banquete16. Banco de sementes exercício 16. Criação do banco de sementesanexos ODS: os 17 Objetivos de Desenvolvimento SustentávelGreenComp: quadro europeu de competências em matéria de sustentabilidade 4 8101216 24 3032343638404446485254576064667072 7478828689 9092949799102104 110114

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ApresentaçãoBem-vindos ao “Manual em Disseminação” do projeto “Germinar um banco de sementes”, uma compilação das várias oficinas com alunos do 2.º e 6.º ano, durante os anos letivos 2021-22 e 2022-23. Estas sessões foram realizadas nas escolas do Agrupamento de Escolas Padre Bartolomeu Dias [Escola Ressano Garcia e Escola Josefa de Óbidos] e Agrupamento de Escolas Manuel da Maia [Escola Fernanda de Castro, Escola Vale de Alcântara e Escola Manuel da Maia]. Este manual serve como um guia educacional, despertando o potencial transformador das sementes e inspirando a compreensão das questões ambientais que afetam nosso planeta, promovendo ações concretas para a sustentabilidade.O foco deste projeto é a semente, um símbolo da vida e de renovação. Ao explorar o mundo das sementes, procuramos sensibilizar a comunidade escolar para questões ambientais mais amplas, como a adoção de hábitos de consumo crítico e sustentável e a necessidade premente de unirmos esforços para reduzir os impactos prejudiciais ao ambiente e preservar os ecossistemas vivos do nosso planeta.Ao longo das ações de formação, tivemos em consideração o enquadramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e do GreenComp, o Quadro Europeu de Competências para a Sustentabilidade. O GreenComp é uma iniciativa crucial que tem como objetivo capacitar aprendizes com conhecimento, habilidades, valores e atitudes necessárias para abordar questões ambientais complexas com empatia, responsabilidade e cuidado pelo nosso planeta. Os ODS permitem uma compreensão mais concreta sobre as consequências das suas ações. Este manual serve como um modelo que pode ser replicado ou adaptado por outras escolas, capacitando alunos, educadores e comunidades a desempenhar um papel ativo na construção de um futuro mais sustentável.Em síntese, o manual é um convite para explorar, aprender e agir. À medida que avançamos juntos, cada semente que é guardada e deitada ao solo é um passo em direção a um mundo mais verde e mais consciente. Este é o nosso compromisso com o presente e o legado que deixamos para as gerações futuras.Vamos começar este caminho e juntos, fazer crescer o nosso banco de sementes de conhecimento e ação sustentável.4

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Projeto “Germinar um banco de sementes”Conscientes da necessidade em dar respostas à perda da biodiversidade genética e alimentar, “Germinar um banco de sementes” é um projeto que se propõe a recuperar os hábitos antigos de troca e conservação de sementes, dando preferência a variedades de plantas que sejam relevantes para o património cultural das comunidades onde são cultivadas.Ao longo do tempo, as ditas variedades tradicionais adaptaram-se e harmonizaram-se às condições das regiões de cultivo, enriquecendo diversas culturas e identidades locais (desde a gastronomia até ao artesanato e comércio, entre outras). A capacidade de adaptação destas plantas e a sua menor necessidade de cuidados suplementares. Esta característica, em conjunto com práticas de cultivo inspiradas nos padrões da natureza e baseada nos princípios como cuidar da terra, cuidar das pessoas e repartir os excedentes, fortalece ainda mais esse contributo. Em resumo, porquê preservar sementes tradicionais? - Para salvaguardar as práticas culturais tradicionais e reforçar as identidades locais; - Para contribuir para a resiliência e o combate às alterações climáticas, com a escolha das espécies e cultivos mais adaptados ao clima e solo de cada local, preservando as variedades locais e a diversidade genética; - Para reduzir a dependência das sementes comerciais; - Para promover uma economia solidária e soberania alimentar. “Germinar um banco de sementes” parte do espaço escola, e de um trabalho continuado, desenvolvido durante o período letivo, mas que visa estabelecer uma ligação da escola com a comunidade local, e também com abrangência nacional. O projeto estrutura-se a partir da semente e na consciencialização dos mais novos, para a acelerada perda de biodiversidade. Todas as atividades desenvolvidas têm como foco a preservação de sementes – idealmente tradicionais e locais – abordando temas mais transversais ao meio ambiente, agrosistemas, alterações climáticas, pensamento sistémico, entre outros. Com atividades dominantemente práticas, pretende-se dotar alunos de muitas delas passíveis dos alunos realizarem no seu quotidiano. O projeto, iniciado na escola, pretende abranger a comunidade local através da: - Implementação de um programa semelhante em cinco escolas de proximidade (raio de 500 m) para estreitar laços de vizinhança;- Promoção de atividades nos bairros, como dias abertos nas escolas, caminhadas etnobotânicas “Explorador do meu território” e ciclos de conversas sobre sementes e agroecologia.O projeto criou e gere também um “arquivo de sementes”, um repositório físico e uma plataforma digital (www.germinar.pt). Através desse arquivo, as sementes podem ser requisitadas gratuitamente de qualquer ponto do país, promovendo a diversidade e propagação das mesmas, além de consciencializar sobre importância da sua conservação e partilha.Guardar sementes, a prática milenar que garante a melhor adaptação das plantas às condições de clima e de solo, é uma das nossas maiores heranças bioculturais, uma garantia e segurança inestimável para a soberania alimentar.A inspiração para a escolha dos conteúdos do manualA intenção principal das atividades que se seguem foi a de suscitar a curiosidade dos mais novos pelas sementes e pelas plantas, mostrando que elas estão na base de toda a vida terrestre do nosso planeta. Compreender melhor o maravilhoso mundo das plantas é fundamental para aprendermos a preservar os nossos ecossistemas vivos. As plantas são formas de vida com poucas necessidades e de grande poder transformador. Transformam os elementos as rodeiam (ar, água e matéria inorgânica), no seu próprio corpo, em alimento para si e para tantos outros seres. Todos os seres vivos do planeta dependem, direta ou indiretamente, dos alimentos provenientes da capacidade das plantas de extrair energia do sol para construir as suas células. As plantas são, por excelência, pioneiras a encontrar novas condições de vida para 5manual em disseminação

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6 manual em disseminaçãoSusana Pinto, encarregada de educação de uma aluna envolvida no projeto, proporciona-nos um olhar do impacto prático na vida das crianças, observando como as brincadeiras nos intervalos passaram a incluir sementeiras com um pouco de terra das árvores do recreio, transformando-as em cuidadores de pequenos seres vivos. “As suas mãos agora enchem-se de terra, e as histórias que trazem para casa são repletas de fascínio”.Por último, Israel Guarda, com um pensamento crítico das práticas pedagógicas e na área da Educação Ambiental, interpela-nos com questões sobre o papel da Educação Ambiental e a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, conforme promovido pela UNESCO.Através da multiplicidade de perspetivas, podemos compreender a riqueza e a complexidade do “Germinar um banco de sementes”, que vai além da preservação das sementes e representa uma oportunidade de aprendizagem para as gerações futuras. Agradecemos a todos que contribuíram com o seu rico testemunho.si, e para outros seres vivos com os quais estabelecem relações de interdependência. Apesar de terem a capacidade de criar cópias exatas de si mesmas, cedem também pólen ao vento e a diversos animais, para através da fecundação misturarem características diferentes, gerando descendência passível de se adaptar a novos locais e condições de vida. Pelo pólen, percorrem grandes distâncias, apesar de viverem imóveis. Quisemos então lançar um novo olhar para o pacífico mundo das plantas, cuja vida próspera se baseia na generosidade e colaboração. As plantas são extremamente importantes para o nosso planeta, representando mais de 80% da massa viva existente no mundo. As plantas e a Terra são velhas companheiras, com uma história muito mais antiga do que a breve existência do ser humano na Terra. Como usar o manual Cada número corresponde a uma aula que tem uma parte teórica, seguida de uma componente prática com um ou dois exercícios. O manual foi feito para escolas com horta. No entanto existe uma aula para a construção de uma horta (n.º 5, p. §§) e outras que são independentes do trabalho em horta (assinaladas com *).Contributos de parceiros, encarregados de educação e amigosIniciamos o Manual com a partilha de contributos de diversas vozes que estiveram envolvidas no projeto “Germinar um banco de sementes”. Perspetivas diferenciadas provêm tanto daqueles que experienciaram este projeto no seio da comunidade escolar, como daqueles que o conheceram externamente.Luís Mocho, diretor do Agrupamento de Escolas Manuel da Maia, partilha a transformação estrutural que o projeto trouxe às escolas sob a sua responsabilidade.Manuela Sim-Sim, curadora do Banco de Sementes A.L. Belo Correia (Jardim Botânico, Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa) e docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, salienta o impacto da iniciativa e explica-nos como “os alunos tiveram contacto com a missão dos bancos de sementes e compreenderam a importância da preservação da diversidade genética das espécies vegetais”.

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O projeto “Germinar um banco de sementes” mudou drasticamente toda a estrutura das escolas. Em primeiro lugar porque dotou cada uma, de locais mais aprazíveis e mais bem cuidados, onde os alunos e demais utentes podiam descansar o olhar. Em segundo lugar porque criou, à sua volta, uma dinâmica de interação coletiva tão necessária a todos os que interagem nas escolas. As crianças ganharam a sua própria motivação para o cuidar, para o tratar e para compor aquilo que estava a crescer entre elas. A horta já não era algo desconhecido onde raramente se ia, mas passou a ser um local de culto e de cultivo. Ali, naquele espaço, podia ver-se crescer a própria vida e todos ganharam um sentimento de pertença e de bem-estar.Em terceiro lugar, e também de elevada importância, o facto de o projeto “Germinar um banco de sementes” permitir o estudo de aspetos do currículo dos vários ciclos que, de outra maneira, seria difícil. Permitiu aos alunos “pôr a mão na massa” e vivenciar aquilo que estudavam na teoria.Por último, mas também importante, o projeto permitiu o trabalho em parceria entre docentes e técnicos, entre o interior e o exterior da escola, sentindo-se uma motivação extra para a implementação das diferentes fases.A obra deixada nas escolas do Agrupamento Manuel da Maia, trouxe benefícios sociais e físicos que são importantes para a comunidade. O acesso a este recurso permite continuar a desenvolver o trabalho com outras gerações de alunos e docentes.8Luis Mocho

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Os alunos tiveram contacto com a missão dos bancos de sementes e a importância de preservar a diversidade genética de espécies vegetaisNo âmbito do projeto “Germinar um banco de sementes” diversos grupos de alunos com idades entre os 6 e os 13 anos, pertencentes a diferentes agrupamentos escolares, tiveram o seu primeiro contacto com o Banco de Sementes A.L. Belo Correia (Jardim Botânico, Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa). A atividade teve como mote principal a importância de guardar sementes. Uma semente representa uma nova vida, uma semente de uma planta guardada num tubo de vidro está pronta para crescer. Essa semente contém o código genético da espécie que se irá desenvolver revelando as características que a planta desenvolveu de modo a garantir a sua sobrevivência a longo prazo.Os bancos de sementes servem como uma apólice de seguro para o futuro da Biodiversidade. Eventos destrutivos, como guerras, furacões e outros, acontecerão e, quando acontecerem, culturas inteiras de alimentos e fibras poderão ser eliminadas. Se os bancos de sementes não estiverem disponíveis para ajudar a fornecer novas sementes e plantas para esses locais, as populações humanas podem sofrer com condições devastadoras, incluindo fome e colapso económico.Como funciona?Os bancos de sementes são um dos métodos mais eficazes de conservação ex situ, devido à facilidade de aplicação e à quantidade de diversidade conservada. Os bancos de sementes armazenam sementes com baixo teor de água a temperaturas abaixo de zero para maximizar sua longevidade. Ao manter as sementes vivas por décadas ou séculos, elas fornecem um seguro contra a extinção na natureza e complementam as estratégias de conservação in situ. Periodicamente, as sementes são usadas para o cultivo de novas plantas, que por sua vez produzirão sementes frescas para o banco de sementes. Este sistema de rotação mantém a semente viável ao longo do tempo, uma vez que a maioria das sementes não pode ser mantida indefinidamente.Durante as visitas os jovens observaram várias técnicas de preparação de sementes visando a sua conservação a longo prazo, desde a limpeza de material até à sua conservação em tubos de vidro adaptados para o volume e dimensões das diferentes amostras de sementes.O Banco de Sementes A.L. Belo Correia (MUHNAC, ULisboa) funciona desde 2001 e é a maior instalação em Portugal dedicada à conservação 10Manuela Sim-Sim

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11manual em disseminaçãode espécies selvagens. Este banco de sementes possui mais de 4.000 acessos de cerca de 1.200 espécies. Nos últimos anos, a equipa do Banco de Sementes tem-se focado na conservação das sementes da Flora Portuguesa ameaçada de extinção, de forma a minimizar a perda de recursos genéticos e fornecer material de semente para futuras ações de conservação. O Banco de Sementes conserva atualmente sementes de 10% da Flora Portuguesa ameaçada de extinção.

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Semear Sonhos12Susana Pinto“Sabes filha, cada semente tem um sonho dentro, o sonho de um dia se vir a tornar uma planta”.

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Naquele dia a Mãe tinha sido chamada pela Professora para ir à escola.- Boa tarde, Mãe – cumprimentou a professora.- Boa tarde, Professora – respondeu a Mãe, um pouco receosa, por não saber muito bem porque tinha sido chamada.- Queria falar consigo porque a sua Filha se distrai muito facilmente, basta passar uma borboleta lá fora e ela fica a olhar...A Mãe disfarçou o sorriso, feliz com a constatação de quem cumpriu o objetivo de ter uma filha atenta à natureza e com a capacidade de se maravilhar com a beleza do mundo. Respondeu à Professora:- Por um lado percebo que isso possa ser um problema para a aprendizagem durante a aula, mas por outro, penso que também revela capacidade de olhar e ver mais além.A Filha nasceu e cresceu na cidade, mas sempre em contacto com a natureza. Tem olhos grandes e verdes como as folhas das árvores, é corajosa e aventureira como se querem as guardiãs da natureza. É curiosa e sonhadora como precisam de ser as cuidadoras da terra.A Mãe repara como a Filha se perde no tempo sempre que brinca entre as árvores, e como se encontra em paz quando chega a casa. A Mãe também nasceu e viveu sempre na cidade.Quando era pequena tinha contacto com a natureza quando ia ao Alentejo visitar a família. A liberdade aprendeu-a nos passeios de bicicleta em Reguengos de Monsaraz, quando o vento lhe batia na cara e podia andar livremente sozinha.Esse contacto com a natureza, apesar de pouco, deixou em si a vontade de explorar o campo e a terra. Quando cresceu decidiu estudar engenharia do ambiente. Cresceu com a inquietude de quem quer salvar o mundo, sente que precisa de deixar uma semente que possa germinar.Ao tornar-se mulher, tinha o sonho de uma vida no campo, um sonho que nunca deixou de existir. A vida foi acontecendo e o sonho foi sendo adiado, até que um dia esta Mãe percebeu que cada dia é uma nova hipótese de fazer os sonhos acontecer na vida que temos, hoje e agora.13manual em disseminação

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14 manual em disseminaçãoA filha estuda numa escola grande e cinzenta, com muitas crianças mas poucas plantas, onde já houve uma horta mas que foi abandonada.Um dia, uma grande surpresa aconteceu. Quando a filha estava no 2º ano teve a sorte de participar num projeto sobre sementes. Começaram por aprender coisas sobre as sementes, a germinação e o crescimento das plantas.Depois construíram uma horta na escola mesmo ao lado da sua escola, onde germinam sementes, plantam, colhem e provam o que semearam e onde descobrem que também se podem comer capuchinhas e azedas. Aprendem a fazer compostagem e bombas de sementes para lançar à terra.Visitam e cuidam da horta todas as semanas. As sementes crescem, acompanhando as crianças, que também crescem um bocadinho todos os dias.Nesse projeto fizeram passeios no seu bairro para identificação de plantas, onde foram exploradores da natureza, foram ao jardim Botânico Hoje, Mãe e Filha vivem no centro da cidade, escolheram uma casa que tem por perto um dos mais belos e enormes jardins de Lisboa. Fizeram desse jardim “o seu quintal”, onde vão muitas vezes dar de comer aos patos, gansos, pavões, galinhas e gatos, e onde às vezes apanham figos da Índia, medronhos e folhas de louro.O apartamento onde vivem tem uma varanda pequenina onde elas plantaram uma pequena horta e onde germinam sementes para depois colocar na terra.Nas traseiras do prédio onde vivem há um terreno baldio onde as plantas e as árvores crescem livremente. Aprenderam que não é preciso viver no campo para estar perto da natureza, que se olharmos com atenção ela está em todo o lado, até nas flores que nascem no passeio e nos telhados, flores essas que sobrevivem sem água e sem cuidados especiais. Essas flores crescem com determinação e mostram-nos a beleza que existe nas coisas mais simples.

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15manual em disseminaçãoencontram no chão, como um agradecimento àquelas plantas que lhes alimentam os olhos de verde sempre que olham à janela, tentando assim devolver à natureza um pouco dessa beleza.Outras vezes constroem “cabanas dos índios” ou a filha leva amigos para brincar nas “árvores-casa”.À noite antes de dormir lêem sempre juntas uma história para alimentar os sonhos.- Sabes Filha, cada semente tem um sonho dentro, o sonho de um dia se vir a tornar uma planta.- Sabes Mãe, quando for grande quero ter uma quinta e ser jardineira.onde descobriram, por exemplo, que a Ginkgo Biloba existe desde o tempo dos dinossauros e que a costela-de-adão (Monstera deliciosa) dá frutos e que as suas folhas são recortadas para poderem partilhar a luz do sol com as outras plantas. Aprenderam muitas outras coisas que demonstram formas de cooperação e entreajuda que existem entre as plantas.Neste projeto aprendem a olhar além do que os olhos vêm, seguem as linhas das plantas e tentam recriá-las no papel, brincam aos pintores usando tintas feitas com folhas, cacau e legumes e aprendem que a natureza tem muitas e variadas cores. Hoje a Filha e os Amigos brincam nos intervalos às sementeiras com um bocadinho de terra de uma das poucas árvores do recreio da escola, são cuidadores de bichos da conta, e vão para casa cheios de terra nas unhas e histórias para contar. No fim de semana é preciso semear mais sonhos e por isso a Mãe e a Filha vão até ao terreno baldio onde as plantas crescem livres e constroem “casas para fadas” com folhas, sementes e paus que

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A Educação Ambiental como Compromisso Consciente para o Desenvolvimento Sustentável?O debate sobre as questões ambientais torna-se, a cada dia, um assunto incontornável. Já não se trata de uma questão que nos deixa indiferentes, sobre a qual ouvimos falar esporadicamente, constitui parte indissociável do nosso quotidiano e a sua presença torna-se mais agudizada, atendendo às situações extremas que temos experienciado nos últimos anos, como resultado em grande medida da ação humana. Apesar da crescente consciência para esta realidade e os numerosos debates e discussões que a mesma tem suscitado no domínio científico, político e económico, a mobilização para novas estratégias e formas de lidar com os problemas daqui resultantes, estão longe de uma mobilização geral, que se torna cada vez mais urgente. Este texto constitui uma pequena reflexão sobre as questões da Educação Ambiental (EA) em Portugal, sobre os vastos domínios em que esta se insere e sobre as dificuldades que permanecem em lidar com este tema. A discussão divide-se em duas partes: na primeira parte, abordam-se as questões em torno da EA e a sua adoção no sistema educativo português. Na segunda parte, reflete-se sobre duas experiências práticas: a primeira, a experiência da EA no ensino da disciplina de Cidadania no 3º ciclo do ensino básico; a segunda, o projeto “Germinar um banco de sementes”, em curso num conjunto de escolas em Lisboa. Conclui-se que, apesar dos progressos significativos registados nos últimos anos, existe ainda um longo caminho, tornando-se óbvio a necessidade de conferir à EA uma dimensão palpável e concreta, que construa laços fortes e continuados de consciencialização junto dos alunos.Da Educação Ambiental à Educação para o Desenvolvimento Sustentável O conceito de EA surge de um modo mais estruturado a partir dos anos 1960, como meio de alertar e formar uma consciência social para o cenário da degradação ambiental, com fortes repercussões sobre os ecossistemas e sobre as condições de vida do ser humano, associados a um uso predatório de recursos naturais. Problemas e inquietações que têm vindo, desde então, e a pouco e pouco, a ser integrados em manuais e atividades escolares. A EA constitui, por isso, um alerta para a necessidade de mudar comportamentos e de informar para uma realidade com profundas consequências a curto prazo sobre 16Israel Guarda

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17manual em disseminaçãoA inserção da EA no ensino formal acontece de forma mais signicativa a partir de 1988, na sequência da resolução do Conselho de Ministros de Educação da Comunidade Europeia. Resulta daí a proposta de elementos programáticos para a introdução da EA em disciplinas adequadas no ensino básico e secundário, cuja repercussão se fará sentir mais claramente no âmbito das chamadas áreas-escola e área de complemento curricular. Ao longo da década de 1990 há um enorme enriquecimento no domínio das atividades de EA em Portugal, tendo para o efeito sido criados um conjunto de instituições, como sucede com o Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), que terá um papel relevante na promoção de ações no âmbito da EA, mas igualmente na criação e reforço de associações de defesa ambiental e inclusive do envolvimento de parceiros privados. O ano de 1996 constitui um marco relevante, pelo elevado número de programas e projetos em curso neste domínio e pela crescente alocação de meios nanceiros e também de formação de prossionais (técnicos e professores), no domínio da EA. Acontece, porém, que a entrada no século XXI, todo este curso é alvo de alterações, com a extinção, em 2002, do IPAMB e a criação do Instituto do Ambiente. A publicação do Decreto-lei n.º 6, de 2001, atualizado no Decreto-Lei n.º 209, de 2002, introduz alterações no sistema educativo, com a criação de três novas áreas curriculares não disciplinares: área projeto (que vem reformar a anterior área-escola); estudo acompanhado e Formação Cívica (a qual na educação para a cidadania engloba a EA). Esta alteração, se por um lado confere maior autonomia às escolas e exibilidade curricular, por outro, deixa em aberto e nas mãos dos professores o modo como devem abordar a EA, estando assim dependentes do projeto educativo da escola e dos projetos curriculares da turma e, ainda, das competências especícas, técnicas, cientícas e prossionais dos professores (Schmidt et al., 2010, p. 48-49).A partir deste período, apesar de algumas propostas e discussões pontuais, que não alteraram signicativamente a situação, o movimento da EA no sistema de ensino perde a dinâmica e o ímpeto conquistado ao longo da década de 1990, perdendo-se também algum do conhecimento, e estruturas criadas (caso das famosas Ecotecas - que progressivamente foram fechadas, no decurso de extinções e fusões de institutos, embora permaneçam algumas em funcionamento), podendo-se falar de um certo retrocesso, inclusive ao nível da formação de técnicos e das interrelações entre instituições e os Ministérios do Ambiente e Educação. Apesar de continuarem a ser abordados os temas da EA, os mesmos estão as condições de vida na terra e um enorme problema geracional, atendendo à necessidade da satisfação das carências presentes e futuras. Nesse sentido, a EA apresenta-se como um processo de aprendizagem, de informação e esclarecimento público, com o objetivo de promover o sentido crítico e capacidade de intervenção dos cidadãos nas decisões sobre o ambiente (Guerra et al., 2008, p. 3). A Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), promovida pela UNESCO, surge como uma expressão paralela, com preocupações comuns à EA, e reflete particularmente as díspares condições de consumo na sociedade moderna e a pobreza e as profundas desigualdades em que ainda vive grande parte da população mundial. Deste ponto de vista, acaba por colocar a ênfase no desenvolvimento e crescimento económico, dentro de determinados limites, considerando o desafio de melhorar as condições de vida das populações mais vulneráveis, perseguindo critérios de equidade. Apesar de existirem numerosos pontos de contato entre a EA e a EDS, muitos autores têm-se recusado usar um em detrimento do outro e persistem na defesa da EA, por cumprir melhor os pressupostos em que assentou o processo de consciencialização para os problemas ambientais, não se enredando em questões de desenvolvimento e crescimento sustentável, que involuntariamente caem na armadilha de perpetuar um ciclo de elevado consumo de recursos, perdendo de vista os pressupostos originais que contribuíram para a criação da EA (Schmidt et al., 2010, p. 57). A educação ambiental no sistema educativo PortuguêsA educação ambiental (EA) no sistema educativo português surge de forma mais organizada e institucionalizada a partir de 1986, num momento em que se tornavam óbvios os problemas da crescente concentração demográca e económica no litoral, com o abandono e despovoamento do interior, num processo largamente em curso de desordenamento do território.A criação da Comissão Nacional do Ambiente, em 1973, defendia a necessidade de serem introduzidas as questões ambientais nos programas de ensino. Estávamos no início de um ciclo que, apenas em 1986, com a integração europeia e com a pressão dos organismos comunitários, determinou a criação da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46 / 86, de 14 outubro), que previa a introdução da EA em todos os ciclos de ensino.

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18 manual em disseminaçãoos temas a serem tratados para fins de avaliação, centrados neste ano sobre os domínios da saúde e participação democrática. É de notar, como facto positivo, a articulação entre esta disciplina, de acordo com os diferentes temas abordados e os diferentes anos do 2º e 3º ciclo básico, com as várias disciplinas curriculares de base, que apesar de limitada por questões de tempo, possibilitou a construção de algumas pontes entre disciplinas, com resultados palpáveis. No meu caso, à semelhança dos meus colegas, a docência desta disciplina era atribuída ao diretor de turma, sendo responsável, igualmente, pela área curricular não disciplinar de Formação Cívica. Ao contrário desta com periodicidade anual, aquela foi lecionada no segundo semestre. A conjugação dos dois tempos semanais, afetos a CeD e Formação Cívica, possibilitou o cumprimento das atividades práticas desenhadas, as quais se revelaram de grande importância no contexto de CeD. Apesar de existir alguma sobreposição de temas, esta flexibilidade pedagógica permitiu uma gestão mais completa do programa de CeD, não obstante, a dificuldade em abarcar domínios tão distintos, assegurando o interesse, participação e envolvimento dos alunos. O reduzido tempo afeto aos domínios de EA e EDS no âmbito de CeD, foi compensado pela realização de uma experiência concreta, que implicou a participação de todos os alunos. Tratou-se de uma campanha, cuja ideia e dinamização partiu da animadora sociocultural da escola, e que juntou turmas de diferentes anos para proceder à limpeza do recinto escolar, sensibilizando os alunos para os problemas ambientais, permitindo alertá-los para algo próximo da sua realidade e da comunidade onde vivem. O lixo foi recolhido e posteriormente separado, colocando-se em sacos de grandes dimensões. Esses sacos foram colocados num ponto visível do recinto, para tornar evidente o lixo depositado indiferenciadamente no chão, mas principalmente como alerta para o elevado consumo de plásticos e seus derivados, material maioritariamente recolhido. O objetivo desta atividade, discutido com os alunos, foi uma chamada de atenção para a proporção descontrolada do nosso consumo e as consequências daí decorrentes sobre os recursos disponíveis e as suas implicações diretas ou indiretas sobre o aquecimento global, discutindo-se outros fenómenos igualmente dramáticos, como o acesso a água potável, entre numerosos outros problemas. sujeitos aos programas curriculares e ao contexto dos projetos educativos das escolas. No secundário, com a reestruturação curricular de 2003 e a introdução da “área curricular não disciplinar”, sobre novas tecnologias e projeto, os temas de EA podem, se escolhidos, ser trabalhados. A criação posterior da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (CeD), conforme Decreto-Lei nº 55/2018, de 6 de julho, não obstante a formação cidadã estar presente, desde de 1986, vem dar consistência e autonomia a esta área disciplinar, constituindo-se assim como uma área de trabalho transversal no 1.º ciclo de ensino básico e como disciplina autónoma no 2º e 3º ciclo, funcionando de acordo com as opções curriculares da escola (trimestral ou semestral). Nos cursos de educação e formação de jovens de nível básico e secundário, esta componente ocorre articulada com o contributo das demais disciplinas que constam nas matrizes curriculares base. É nela que se encontra, como um dos seis tópicos a serem trabalhados obrigatoriamente, os temas de Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental, os quais surgem em paralelo com os Direitos Humanos, Igualdade de Género, Interculturalidade e Saúde. Portanto, embora os domínios da EA e da EDS sejam aqui analisados, são-no de forma lateral e sujeitos, muitas vezes, aos projetos educativos das escolas, e desse ponto de vista, também, condicionado às opções realizadas no contexto dos programas curriculares decidido em conselho de ano e de turma, assim como do professor responsável. Daqui resulta, como se tratará em seguida, que tanto a EA como a EDS têm uma visibilidade residual e surgem conjugadas num contexto de diversos domínios, sem dúvida todos relevantes, mas em que se torna muito complexo, mesmo pressupondo a articulação e transversalidade entre diferentes áreas disciplinares, construir um processo de consciencialização com continuidade no tempo, passível de contribuir de forma relevante para informar e ajudar a tomar decisões no interesse de todos. A experiência de docência de Cidadania e DesenvolvimentoA experiência de ensino da disciplina de CeD ocorreu na Escola Básica do Catujal, situada no município de Loures, no 7º ano. O ensino da disciplina estava enquadrado num grupo de trabalho, coordenado por um colega, onde se estabeleceram as principais estratégias em linha com a legislação e principais documentos orientadores, definindo-se

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19manual em disseminaçãoObviamente que, por forma a garantir um reflexo duradouro e convincente desta atividade, a sua continuidade no tempo é absolutamente necessária, ainda que seja difícil garanti-la. Tal facto foi referido em diversos documentos na escola. Infelizmente, é um processo que depende de uma estratégia a cinco ou mais anos, com um claro compromisso da direção da escola, mas também de toda a comunidade escolar, a qual ganharia outro peso, se contasse com o suporte e apoio das direções de educação. Projeto “Germinar um banco de sementes”A convocação do projeto “Germinar um banco de sementes”, no âmbito deste texto, tem propósitos muito concretos relacionados com a dimensão operativa aí explorada, num compromisso entre a ideia e a sua implementação prática, com a criação de uma horta de natureza escolar, entre outras iniciativas, realizada com e para os alunos. Não me alongarei aqui sobre o projeto e sobre os seus propósitos, dado que o mesmo tem um tratamento particular no contexto desta publicação, mas quero destacar a consciencialização para algo aparentemente tão básico, o resgate e partilha de uma património natural de gerações − as sementes − que tem sido fortemente ameaçado nos últimos anos e que assenta em práticas de cuidado, produção e partilha locais. A par do resgate de um património, este projeto articula a educação para a cidadania assente na literacia cívica e consciencialização para a necessidade de renovação de práticas de consumo mais locais, assente em modelos sustentáveis conscientes na produção e consumo. Com a tomada de consciência para o problema, este projeto está ativamente a participar na prevenção e construção de uma solução para os problemas ambientais, em linha com alguns dos princípios consagrados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos na Agenda 2030, estabelecida pela Organização das Nações Unidas. Este projeto traz um importante contributo para a EA e EDS e à semelhança do que foi sublinhado no ponto anterior, deveria ser conferida a continuidade no tempo, por forma a ser possível avaliar os resultados obtidos e assegurar que a informação passe e se converta em algo palpável do ponto de vista da criação destas hortas, que têm um caráter de proximidade física, mas também de envolvimento da comunidade escolar e local, tendo a escola como centro.

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20 manual em disseminaçãoA escola, neste contexto de ação, pode funcionar como engrenagem de um importante movimento, na criação de mecanismos ativos de uma cultura organizativa e no desenvolvimento de um processo de consciencialização permanente com respeito aos problemas ambientais. BibliografiaGuerra, J.; Schmidt, L. e Gil Nave, J. (2008). Educação Ambiental em Portugal Fomentando uma Cidadania Responsável. VI Congresso Português de Sociologia. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. http://www.associacaoportuguesasociologia.pt/vicongresso/pdfs/681.pdfLeite, L.; Dourado, L. (2015). Educação Ambiental e para o Desenvolvimento Sustentável na formação de Graduados. Comunicações, 2 (2), pp. 285-307. https://hdl.handle.net/1822/42156Schmidt, L.; Guerra, J. e Gil Nave, J. (2010). Educação Ambiental Balanço e perspectivas para uma agenda mais sustentável. Instituto de Ciências Sociais. A apologia de uma pedagogia centrada na ação no domínio da EA e EDSEsta pequena análise permite concluir que, a questão da EA e EDS já estão instituídos no nosso sistema de ensino há várias décadas, conhecendo notórios progressos técnicos, cientícos e pedagógicos no decurso da década de 1990, percurso que se mostra ziguezagueante, com a entrada no século XXI. Se por um lado, essas mudanças contribuíram para uma maior autonomia das escolas, relativamente às opções e orientações no domínio da EA e na formação para a cidadania, perdeu-se também um importante capital humano, tecnológico e informativo, dado que a participação de entidades exteriores às escolas, o envolvimento de prossionais, técnicos e a formação de professores neste domínio foi muito reduzido, tornando, por outro lado, mais difícil perceber e acompanhar as iniciativas neste domínio, em curso nas escolas. Os dois casos apresentados legitimam a necessidade de conferir uma operacionalização da EA e EDS, orientada para uma pedagogia de ação, que permita a autoaprendizagem, assim como a participação e colaboração. A campanha de recolha de lixo na escola permitiu orientar as aprendizagens para um problema concreto, por forma a alertar para a necessidade e consciencialização de cada um de nós para os problemas do excessivo consumo de recursos e os profundos impactos sobre a vida humana. O reforço e conexão entre a aprendizagem informal e formal, considerando a possibilidade de reexão diretamente ligada a uma experiência concreta, trouxe efetivos resultados, sobre a capacidade de participação e envolvimento dos alunos. Com o mesmo intuito, o projeto “Germinar um banco de sementes” prossegue desígnios semelhantes, assente numa ação concreta, de sensibilização para o valor das sementes e a necessidade de preservação, articulado num projeto que parte da dimensão escola − com ações teórico-práticas regulares ao longo do ano letivo que visam integrar conteúdos programáticos com uma educação para as alterações climáticas – para atividades de implementação local, agindo nos bairros onde se integra até à dimensão nacional, com a partilha gratuita de sementes através do repositório online. Basilar é também o recurso à construção de uma horta e o foco na produção e necessidades locais, enquanto práticas de desenvolvimento sustentável.

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1.introdução ao projeto“Germinar um banco de sementes”Biodiversidade, alterações climáticas e a importância dos bancos de sementesÉ cada vez mais evidente o efeito do impacto humano sobre a Natureza, com consequências graves para o meio ambiente, a sociedade e a economia. Ações humanas, como a desflorestação, a agricultura intensiva, a poluição e o tráfico de animais, estão a causar graves impactos no planeta. Esses impactos incluem eventos climáticos extremos, extinção de espécies pela perda de habitat, o surgimento de novas doenças, a migração em massa de pessoas e o conflito humano por bens essenciais à sobrevivência, como a água ou alimento.Além disso, práticas agrícolas como monoculturas, uso de espécies geneticamente modificadas e adubos químicos, ou o desaparecimento de espécies tradicionais (mais bem-adaptadas ao local, com valores nutritivos e ecológicos próprios), colocam em risco a saúde humana, o valor comunitário e biodiversidade como um todo. Por estas, e outras, razões é cada vez mais importante preservar a Natureza e a coexistência com a mesma. A constituição de bancos de 24Objetivos · Conhecer o projeto “Germinar um banco de sementes” e os seus objetivos.· Aprender o que é um banco de sementes.· Reconhecer os diferentes estádios de evolução da planta: semente, plântula, flor e fruto.· Conhecer diferentes tipos de sementes e as plantas a que dão origem.· Aprender a semear e os cuidados a ter durante a germinação.

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sementes são um dos contributos possíveis, ao alcance de qualquer pessoa, para conservar a diversidade de sementes (fig.1).Os bancos de sementes são locais, ou estruturas, onde são preservadas sementes com carácter de interesse biológico, ecológico ou social. Com o acelerado desaparecimento de variadas espécies vegetais, ou variedades locais, estas iniciativas têm um papel importante, na conservação da diversidade ecológica das sementes, quer pelo seu valor comunitário. Os bancos de sementes têm a dupla capacidade de sensibilizar e agir perante um problema motivado pelo comportamento humano.Assim, ideias e projetos de educação e ação são cada vez mais necessários, especialmente em regiões urbanas onde existe uma maior desconexão da sociedade com a Natureza e os seus ritmos. Germinar um banco de sementesO projeto “Germinar um banco de sementes”, centra-se na valorização e preservação de sementes, produção sustentável e construção de um banco de sementes com o apoio da comunidade escolar. Este banco de sementes estende-se à comunidade local e território nacional, através do website do projeto (www.germinar.pt), com a partilha de sementes. Pretende, assim, sensibilizar a comunidade para a importância das práticas de partilha e circularidade de sementes.A história das plantas terrestres e sua evoluçãoAs plantas terrestres – também chamadas de Embriófitas – surgiram há cerca de 470 milhões de anos, a partir de um antepassado das algas verdes que ainda hoje vivem no mar (fig.2). O primeiro passo da evolução, para se adaptarem à vida terrestre, foi o desenvolvimento de uma cutícula – para reter a água – de forma a evitar que secassem. Estas plantas, as Briófitas (semelhantes aos musgos que ainda hoje conhecemos), não conseguiram ultrapassar a necessidade da proximidade da água para garantir a reprodução (através de esporos).Desta forma, o passo seguinte na evolução das plantas envolveu o desenvolvimento de sistemas de circulação vascular mais complexos, com seiva bruta ascendente (xilema) – composta por água e sais minerais – e seiva elaborada descendente (floema) – composta essencialmente por açúcares como a glicose. Este fenómeno deu origem 25manual em disseminação | introdução ao projetoFigura 1 - Diversidade de sementes

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26 manual em disseminação | introdução ao projetoAlgasalga verde ancestralBriófitascutícula e proteção do embriãoPteridófitastecidos vasculares para transporte de seivaGimnospérmicasplantas com sementesAngiospérmicasflores e frutosFigura 2 - Evolução das plantas

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27manual em disseminação | introdução ao projetoao aparecimento de plantas como os fetos – Pteridófitas – que, apesar de dependerem de esporos para se reproduzirem, já conseguiam competir por mais luz solar com a sua estrutura mais vertical e, consequentemente, maior exposição solar.A grande adaptação subsequente deu-se com o aparecimento das sementes, o que permitiu que estas plantas deixassem de depender da proximidade da água e, assim, dispersassem a sua descendência por muito mais sítios e meios diversos. A estas plantas deu-se a designação de Gimnospérmicas.A adaptação de maior complexidade aconteceu com a especialização da flor e do fruto – há cerca de 100 milhões de anos – o que permitiu uma proteção e disseminação das sementes muito maior, dando origem às plantas Angiospérmicas. As angiospérmicas representam hoje cerca de 90% das plantas, o que mostra a contínua capacidade adaptativa da Natureza. Com cerca de 315 000 espécies de plantas descritas, e a sua proliferação por todos continentes, são um dos maiores grupos de seres vivos de todo o planeta, e também o mais biodiverso.Sementes: o início de um ciclo Agora que compreendemos um pouco melhor o contexto evolutivo das plantas, vamos olhar mais de perto para a semente em si e a sua composição. O interior da semente (fig.3) é, em geral, composto por cinco partes:Plúmula: pequena gema da qual se desenvolvem o caule e as folhas da planta.Radícula: raiz do embrião que origina o sistema radicular. Cotilédone: folha embrionária que contém as reservas necessárias à germinação e ao desenvolvimento inicial da planta. Hipocótilo: região que liga a plúmula e a radícula. Na germinação expande-se, levando os cotilédones até à superfície.No seu conjunto, a radícula, os cotilédones e o hipocótilo formam o embrião. Quando a semente cai no solo fica a aguardar, pacientemente, até existirem as condições favoráveis para a sua germinação. Quando isto acontece desenvolve-se a radícula, para fixar a nova planta ao solo e Figura 3 - Composição da semente (grão-de-bico)plúmularadículacotilédonehipocótilo

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28 manual em disseminação | introdução ao projetoabsorver água e sais minerais. De seguida o caulículo, que faz com que a planta cresça em direção à luz. Por fim dá-se o desenvolvimento das gémulas e folhas, que irão permitir que a planta inicie a fotossíntese, de forma a produzir açúcares e crescer.Após algum tempo – variável de espécie para espécie – a planta entra em floração, o que, através da polinização cruzada, realizada pelo vento, ou por insetos como as abelhas ou outros animais, permite a fecundação. Com a fecundação inicia-se o desenvolvimento da semente que, no caso de plantas de fruto, acresce uma estrutura que rodeia a semente, e a protege (fig.4). Caso não sejam colhidos, o fruto ou a semente vão secar na planta sendo depois possível colher e guardar num banco de sementes ou deixar voltar à terra de forma a que este ciclo de vida se repita (fig.5).Figura 4 - Partes das plantas (ex. grão de bico)raizfolhascaulefloresfrutos

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29manual em disseminação | introdução ao projetoFigura 5 - Ciclo de vida da planta

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exercício 1.Conhecer as sementes e semearMaterial necessário por parte dos professores/educadores1.ª parte exercício:- Lupaobservação, por exemplo: Gilbardeira (Ruscus aculeatus) Sobreiro (Quercus suber) Aroeira (Pistacia lentiscus) Fava (Vicia faba) Milho (Zea mays) Feijão (Phaseolus vulgaris) Girassol (Helianthus annuus) Rabanete (Raphanus sativus) Ervilha (Pisum sativum) Trigo sarraceno (Fagopyrum esculentum) Sumário do exercício Nesta atividade pretende-se sensibilizar as crianças para a importância das sementes e a sua diversidade através da observação e germinação. Para isto, os alunos são con-vidados a observar diferentes sementes, à lupa, e a escolher uma das variedades apresentadas para semear. Percebendo a importância e cuidados a ter com cada uma das sementes, cada aluno é responsável por semear e cuidar das sementes durante o seu período de germinação. Este processo permite criar uma ligação emocional com as suas futuras plantas, começando assim a contribuir para o banco de sementes.Cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) Anis estrelado (Illicium verum Hook)Mos-tarda-branca (Sinapis alba) Mostarda-preta (Brassica nigra) Abacate (Persea americana) Pepino (Cucumis sativus) Alfarroba (Ceratonia siliqua)2.ª parte do exercício:- Terra- Composto (opcional)- Sementes de hortícolas da época (podem ser as da lista acima referida)- Borrifador/regador - Água30 manual em disseminação | introdução ao projeto13.11.23.21.32.24.22.34.342 31215ODS Greencomp

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Instruções1. Observar cada semente dentro do frasco e retirá-las para observação à lupa;2. Escolher a semente a germinar;3. Cada aluno enche o seu recipiente com terra ou, se possível, composto. No caso de composto, colocar, aproximadamente, 90% de terra e 10% de composto (opcional) e misturar. Fazer um buraco de profundidade ajustado a cada semente – a profundidade deverá corresponder a duas a três vezes o comprimento da semente;4. Colocar a semente e tapar com mais terra;5. Regar/borrifar a sementeira e manter húmida até germinar, sem “afogar” nem deixar secar a semente. Para evitar este problema, utilizar técnica do polegar, i.e. colocar o polegar e se a terra vier agarra-da, está húmida; se o polegar vier limpo, necessita de água;6. Colocar numa zona com boa exposição solar (em casa ou na escola).Material necessário por parte dos alunospacote de leite, caixa de ovos, copo de iogurte31manual em disseminação | introdução ao projeto3 54 6

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2 a 4.desenho da natureza e ilustração cientíca Nestas sessões de iniciação à ilustração científica pretende-se dar aos alunos ferramentas de carácter científico e plástico que lhes permitam, através da disciplina do desenho, observar, contemplar e desenhar o mundo natural que os rodeia. Até porque, o que se desenha nunca se esquece.“A Ilustração, e o desenho científico na sua essência é uma explicação. O desenho seleciona a informação relevante, omite o desnecessário, simplifica e sintetiza” (Salgado, 2012, p.13). Referência:Salgado, Pedro (2012). Desenhar é fish. Peniche: Guia das escolas & profissões do mar, ano II. 32

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34 manual em disseminação | desenho da natureza e ilustração cientícaMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Prancheta– Folha branca-zas (exemplo: HB; 2B)– BorrachaSumário do exercício Breve introdução à disciplina de Ilustração natureza.– Dar a conhecer a disciplina de Ilustração da natureza. – Observar atentamente a morfologia de uma planta. – Entender que cada planta tem caracte-rísticas ímpares. uma planta e os elementos que a com-põem (raiz, caule, folha, fruto e semente). Instruções 1. A partir de uma observação direta e atenta, os alunos devem desenhar um elemento vegetal presente na horta, de partes que a compõem.exercício 2.Prancha Botânica 1.22.11.32.23.34.22.34.341013511 1215ODS Greencomp

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exercício 3.Desenhar num dia de chuva Material necessário por parte dos professores/educadores– Prancheta– Folha de poliéster – Lápis de cor variados– Borracha Sumário do exercícioPara a simulação de uma saída de campo em dias de chuva, apresentam-se os ma-teriais básicos necessários para um dia dedicado ao desenho no exterior. São também mostrados diferentes exem-plos de cadernos de campo, e alguns mate-riais mais especializados. – Perceber a importância de uma “Saída de Campo”. – Dar a conhecer materiais imprescindí-veis para quem desenha ao ar livre. – Entender que cada planta faz parte de um ecossistema.  – Experienciar as potencialidades de dife-rentes materiais técnicos.Instruções1. Distribuir as folhas de poliéster e o ma-terial pelos alunos;2. Junto da horta, e a partir da observação, os alunos devem desenhar uma composi-ção vegetal à sua escolha, tendo em conta o contexto onde estas se encontram. NotaCaso não seja possível realizar o exercí-cio em dia de chuva, colocar tinas com água, onde os alunos podem mergulhar as folhas, durante o processo de desenho, ou depois de concluído.36 manual em disseminação | desenho da natureza e ilustração cientíca1.22.11.32.23.34.22.34.341013511 1215ODS Greencomp

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exercício 4.Não estamos sozinhos no campoMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Prancheta– Folha branca– Lápis de cor variados– Borracha – RelógioSumárioBreve explicação sobre a necessidade de o ilustrador trabalhar em equipa e de saber quais os elementos naturais que vão representar.– Perceber a importância de respeitarmos a dinâmica do grupo. – Entender que cada pessoa tem o seu ritmo natural. – Observar atentamente e representar. Instruções1. Sob uma folha de papel branco criar uma composição de diferentes elementos naturais recolhidos na horta;2. Cada aluno vai trocando entre os seus pares, o elemento que desenhou, num tempo médio de 10 minutos.38 manual em disseminação | desenho da natureza e ilustração cientíca1.11.22.11.32.23.34.22.34.341013511 1215ODS Greencomp

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5.desenho e construção da hortaOrigem da agricultura e civilizações pelo mundoA história da agricultura tem as suas raízes há milhares de anos, na Revolução Neolítica, uma era transformadora que ocorreu por volta de 10.000 a.C. Durante este período crucial, a humanidade passou de uma existência nómada, com base na caça e na recolha, para comunidades agrícolas bem estabelecidas. Este foi um ponto de viragem profundo no desenvolvimento da sociedade, uma vez que as pessoas começaram a cultivar e a domesticar animais para se sustentarem. Regiões como o Crescente Fértil, no Médio Oriente (atual Palestina, Jordânia, Israel, Líbano, Kuwait e Chipre, além de algumas partes do Egito, da Síria, do Irão e da Turquia), o Vale do Indo, no Sul da Ásia, e a bacia do rio Yangtze, na China, desempenharam um papel fundamental no aparecimento da agricultura. Os primeiros agricultores destas áreas começaram a cultivar produtos de base como o trigo, a cevada, o arroz e o painço. A capacidade de produzir alimentos de forma sistemática levou a excedentes, permitindo o crescimento da população, a especialização e o aparecimento de sociedades complexas.À medida que as civilizações avançavam, o mesmo aconteceu com as práticas agrícolas. Sociedades antigas como o Egito, a Mesopotâmia e o Império Romano introduziram sistemas de irrigação sofisticados para aumentar o rendimento das colheitas. Envolveram-se na criação seletiva de animais para melhorar a qualidade dos animais domesticados, interligando ainda mais a agricultura com o progresso humano. A disseminação dos conhecimentos agrícolas ocorreu através do comércio e dos intercâmbios culturais, resultando em práticas agrícolas diversificadas em todo o mundo. As civilizações indígenas das Américas, como a Maia, a Inca e a Azteca, cultivavam milho, feijão e batata (fig.1), apresentando as suas próprias técnicas inovadoras. Estes desenvolvimentos lançaram as bases para as mudanças subsequentes na história da agricultura, moldando o curso da civilização humana durante milénios.40Objetivos · Dar a conhecer a história da agricultura e sua relação com o desenvolvimento humano.· Compreender o impacto da agricultura moderna na saúde do planeta.· Explicar quais os elementos que compõem uma horta, em sintonia com os padrões da Natureza.· Ensinar a construir uma horta biodiversa.

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Revolução Agrícola, Industrialização e Desaos ModernosDurante os séculos XVIII e XIX, com a Revolução Agrícola e a subsequente Revolução Industrial, assistimos a mudanças significativas na agricultura. Métodos agrícolas inovadores, sistemas de rotação de culturas e a utilização de fertilizantes levaram ao aumento da produtividade e à produção de alimentos em maior escala. Estes desenvolvimentos, juntamente com a mecanização do equipamento agrícola, como arados e tratores, abriram caminho para a Revolução Industrial, provocando a urbanização e o êxodo rural para as grandes metrópoles.O século XX assistiu a novos avanços, incluindo a Revolução Verde. Esta era introduziu variedades de culturas de elevado rendimento, fertilizantes sintéticos e pesticidas, resultando num aumento dramático da produção alimentar. Embora estas inovações tenham desempenhado um papel crucial na resolução da escassez global de alimentos, também tiveram consequências graves para os ecossistemas e para a saúde do planeta terra. A forte dependência de fertilizantes sintéticos e a prática e a um declínio da biodiversidade dos solos. Além disso, a intensificação das práticas agrícolas teve, e tem ainda, impactos ambientais significativos, incluindo a poluição da água, perturbação dos habitats e a redução e extinção de muitas espécies.À medida que exploramos estes problemas da agricultura moderna, denota-se também uma ênfase crescente nas práticas sustentáveis e com vista à preservação da biodiversidade. “Os esforços para promover abordagens agroecológicas têm como objetivo enfrentar os desafios da degradação dos solos e da perda de biodiversidade. Encontrar um equilíbrio entre a segurança alimentar e o bem-estar ecológico, continua a ser um objetivo fundamental, uma vez que procuramos alimentar, de forma sustentável, uma população mundial em crescimento. A história da agricultura serve-nos como um guia valioso, recordando-nos que as inovações devem ser acompanhadas de uma gestão responsável da terra e dos seus recursos.Assim, quando pensamos em desenhar uma horta, integrar o máximo 41Figura 1 - As 3 irmãs: feijão, abóbora e milhomanual em disseminação | desenho e construção da horta

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42 manual em disseminação | desenho e construção da hortaFigura 2 - Diversidade de hortas e formas de plantar

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43manual em disseminação | desenho e construção da hortamanutenção, especialmente no contexto escolar.– Solo: um solo saudável tem de conter uma boa camada arável (ar) e estar bem hidratado (água). Deve também estar bem drenado (minerais), com poucas espontâneas indesejadas (para evitar competição entre plantas) e com uma boa primeira camada de matéria orgânica decomposta, capaz de ser absorvida pelas plantas. Estas características de solo permitirão o bom desenvolvimento das raízes e das plantas. É aconselhado um solo com pelo menos 30 cm de profundidade, embora um solo mais profundo seja o preferencial. Em síntese, um solo saudável deve ter cerca de 25% água, 25% ar, 46% minerais e 4% matéria orgânica.A dimensão de uma horta depende do espaço disponível e da quantidade e diversidade de hortícolas, aromáticas ou mesmo frutos que se pretende produzir. Podemos fazer hortas em jardins, terraços, varandas, pátios etc., assentando em diferentes substratos: diretamente na terra, em vasos, materiais reciclados (garrafas, copos de iogurte, etc.), num jardim vertical, entre outros. A forma depende do espaço disponível, da topografia, da relação com o meio ambiente, do tipo de plantações que se pretende instalar, mas também de forma a garantir o acesso à mesma.A escolha das espécies de plantas irá depender dos fatores acima mencionados. Se, por exemplo, toda a horta estiver maioritariamente à sombra, com água abundante e protegida da geada, fará sentido escolher espécies como o espinafre (Spinacia oleracea) ou o morangueiro (Fragaria spp.) que se desenvolvem bem nestas condições. Por outro lado, plantas como a alface (Lactuca sativa) ou o tomateiro (Lycopersicum esculentum) necessitam de sol direto durante, pelo menos, 4 a 5 horas por dia. Em função do objetivo de produção e as características do espaço, podemos ainda inspirar-nos nos padrões da floresta e criar um sistema de policultura em consociação, algo que iremos explorar mais à frente neste manual.imitarmos a Natureza e criarmos sistemas resilientes, biodiversos e altamente produtivos (fig.2).Desenho de uma horta biodiversaNa construção de uma horta, antes de se colocar uma semente ou planta no solo, existe uma série de procedimentos que se deve ter em conta.A escolha do espaço para instalação da horta depende de vários fatores como a possibilidade de circulação, a existência de um ponto de água e as características topográficas e climatéricas do local. Veremos alguns desses pontos, mais em detalhe:– Relevo: convém, especialmente com crianças, dar preferência a terrenos planos, uma vez que terrenos muito inclinados, além do difícil acesso, podem gerar a erosão do solo. Deve-se também evitar áreas baixas e húmidas para prevenir situações de alagamento.– Exposição solar: cada planta tem uma necessidade específica de luz. Para a maior parte das hortícolas, é vantajoso uma boa insolação nascente/poente (sobretudo poente), para potenciar a realização da fotossíntese. A localização das plantas na horta deve adaptar-se às necessidades de luz de cada espécie. – Vento: é conveniente proteger as plantas do vento, por isso há que ter em conta a orientação dos ventos dominantes na definição da área de implantação da horta. Por outro lado, é aconselhável instalar a horta num local já com espécies de maiores dimensões, como arbustos e árvores, que poderão servir de barreira natural, tanto ao vento como ao sol em excesso. Caso as plantas de maior porte não sejam uma pré-existência, podem plantar-se, tendo sempre em atenção que o seu crescimento não deverá fazer sombra excessiva às hortícolas, que tipicamente necessitam de várias horas de sol direto. – Água: a proximidade a um ponto de água é importante para assegurar a hidratação das plantas durante todo o ano. Sempre que possível é aconselhado instalar um sistema de rega gota-a-gota porque, entre outras vantagens, são mais eficientes e com maior rentabilidade. A instalação de um temporizador no sistema de rega, controlando o tempo de rega da horta, pode ajudar a garantir o desenvolvimento das plantas em meses mais quentes e de menor

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exercício 5-1.Cocriação do desenho da hortaMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Folhas brancas– Lápis ou canetasSumário do exercício Nesta atividade pretende-se a cocriação da horta, em conjunto com os alunos, de forma a aumentar o sentimento de apro-priação ao espaço e seu envolvimento com o mesmo. Embora os professores possam já ter uma ideia do que fazer, é sempre acon-selhado ouvir as ideias dos alunos e tentar integrar essas ideias, sempre que possível, Instruções1. Ir com os alunos até ao local ou locais disponíveis para criar a horta;2. Avaliar com eles o relevo, a exposição solar, o vento, a proximidade de um ponto de água, o solo e a dimensão de cada um dos locais pré-selecionados;3. Escolher um dos locais, em conjunto com os alunos, com base nestas várias características;4. Incorporar ao máximo as ideias no de-44 manual em disseminação | desenho e construção da horta3.11.22.13.21.32.23.34.22.34.34214315ODS Greencomp

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NotaApós este procedimento, mediante a escolha ser fazer a horta no chão ou em talhão superior ao solo, pedir apoio da escola ou outros funcionários para demarcar o local para a horta, ou ajudar a construir o talhão em madeira ou recurso semelhante, respetivamente.45manual em disseminação | desenho e construção da horta

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exercício 5-2.Criar o solo 46 manual em disseminação | desenho e construção da hortaInstruçõesCaso estejamos a falar de um talhão ele-vado, começar as instruções no primeiro passo. Caso seja no solo, passar automati-camente para o ponto 3.1. Depositar matéria vegetal no fundo do talhão: ramos, folhas, troncos, cartão, etc. Esta deve conseguir cobrir o fundo do talhão até não conseguirmos ver o que está por baixo, no caso das caixas eleva-das. Esta matéria decompor-se-á servindo de alimento, também para as minhocas;2. Encher com terra – as enxadas ajudam a soltar a terra e as pás conseguem retirar;3. Quando faltarem cerca de 20 cm para Material necessário por parte dos professores/educadores – Terra– Composto– Matéria vegetal como ramos, folhas, troncos, etc.– Pás– Enxadas– Vasos ou baldes– Carrinho de mão (opcional)– Ancinho (opcional) Sumário do exercício Nesta atividade pretende-se que, após a construção da estrutura para a horta, por parte da escola ou dos professores – seja ela um canteiro no solo ou um talhão de madeira elevada –, os alunos sejam capa-zes de entender o que é necessário para criarem um solo saudável para as plantas, a base da sua horta. Assim os alunos criam solo com composto e matéria vegetal, utili-zando técnicas de planeamento – pensado a todos os níveis – para a criação de uma horta sustentável, de produção equilibrada e harmoniosa com a Natureza. 3.11.22.13.21.32.23.34.22.34.34214315ODS Greencomp1

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47manual em disseminação | desenho e construção da hortaNotaCaso exista um carrinho-de-mão deve colo-car-se a terra no carrinho, tendo o cuidado para não encher demasiado, e transportar. Caso não exista o carrinho-de-mão, o trans-porte da terra pode ser feito com vasos ou baldes. Se a distância for pequena podem utilizar-se as mãos.chegar ao nível do talhão, deve começar-se a trocar a terra por composto. As últimas pás devem ser sempre de com-posto. Nesta altura, caso tenham minho-cas, podem colocá-las na terra, para ativar mais rapidamente o solo;4. Quando o nível da terra estiver à altura pretendida, deve misturar-se bem o com-posto e a terra com a ajuda do ancinho, de forma a prepará-la para a plantação e para a instalação do sistema de rega.2 3

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6.orestasO que é uma oresta?Uma floresta é um ecossistema complexo, caracterizado por um conjunto denso de árvores e outra vegetação de diferentes estratos, bem como os diferentes seres vivos que a habitam, cobrindo frequentemente uma área significativa de terreno. As florestas podem ser encontradas numa grande variedade de regiões em todo o mundo, desde os climas tropicais aos temperados. A sua composição, estrutura e biodiversidade variam em função de fatores como o clima, o tipo de solo e a localização geográfica. As florestas podem ser classificadas, de uma forma simplificada, em diferentes tipos:– Florestas Tropicais: Encontradas perto do equador, estas florestas são caracterizadas por temperaturas elevadas, precipitação abundante e por um alto grau de biodiversidade. São frequentemente referidas como os “pulmões da Terra” devido ao seu papel na produção de oxigénio e na absorção de dióxido de carbono.– Florestas temperadas: Estas encontram-se em regiões com estações distintas e precipitação moderada. As árvores perdem as suas folhas no outono e ganham novas folhas na primavera. Exemplos 48Objetivos · Aprender sobre florestas e a sua importância.· Reconhecer os diferentes elementos da floresta: desde o solo, plantas aos restantes seres vivos.· Compreender a estrutura de uma floresta.· Experimentar uma forma de criar uma floresta em pequena escala na sala de aula ou em sua casa utilizando materiais recicláveis.

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49incluem as florestas de folha caduca da América do Norte e partes da Europa, como no norte de Portugal. – Florestas Boreais (Taiga): Localizadas em regiões do Norte com temperaturas frias, as florestas boreais são dominadas por árvores coníferas como o pinheiro e o abeto. Estas florestas desempenham um papel fundamental no armazenamento de carbono e albergam várias espécies de vida selvagem adaptadas a ambientes frios.– Florestas mediterrânicas: Encontram-se em áreas com um clima mediterrânico, caracterizado por verões quentes e secos e invernos suaves e húmidos. São frequentemente compostas por arbustos e árvores de folha perene que estão adaptados às condições de seca. É exemplo disto a parte Sul de Portugal.– Florestas montana: Estas florestas ocorrem em altitudes mais elevadas, frequentemente em montanhas. A sua composição e estrutura podem variar consoante a altitude e as condições locais.– Tundra: A vegetação inclui arbustos baixos, gramíneas, musgos e líquenes. Caracteriza-se por temperaturas baixas, uma estação de crescimento curta e permafrost (uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada). Não é uma floresta típica, no sentido de uma cobertura arbórea densa, mas é um ecossistema importante.– Florestas de mangue: As florestas de mangais crescem em zonas costeiras, onde a água salgada e a água doce se misturam. São constituídas por árvores e arbustos tolerantes ao sal e adaptados a solos alagados. Os mangais proporcionam um habitat importante para a vida aquática, protegendo as linhas costeiras da erosão e das tempestades. – Florestas Ripícolas: Estas florestas crescem ao longo das margens dos rios, ribeiros e outras massas de água. Desempenham um papel crucial na estabilização das margens, na prevenção da erosão e na criação de habitat para espécies aquáticas e terrestres. As florestas ripícolas também ajudam a filtrar os poluentes do escoamento antes de chegarem às massas de água.Importância das orestasAs florestas são essenciais para um planeta saudável, pois contribuem para um conjunto variado de funções ecológicas:manual em disseminação | orestas

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50 manual em disseminação | orestasBiodiversidade: As florestas fornecem habitat para numerosas espécies de plantas, animais e fungos, apoiando uma rica rede de vida.Sequestro de carbono: As árvores absorvem dióxido de carbono da atmosfera através da fotossíntese, ajudando a mitigar as alterações climáticas através do armazenamento de carbono nas suas raízes, troncos e no próprio solo.Regulação do clima: As florestas influenciam os padrões climáticos locais e globais, regulando a temperatura, a humidade e a precipitação.Conservação da água: As árvores ajudam a regular o fluxo de água, a prevenir a erosão do solo e a manter a qualidade da água, atuando como filtros naturais.Benefícios socioeconómicos: As florestas oferecem recursos como a madeira, produtos florestais não lenhosos e oportunidades de lazer, contribuindo para as economias locais e bem-estar humano.No entanto, as florestas estão atualmente ameaçadas devido a fatores como a desflorestação (o abate de florestas para agricultura, exploração madeireira e desenvolvimento), a destruição de habitats, as alterações climáticas e práticas insustentáveis de utilização dos solos. Assim, os esforços para proteger e gerir de forma sustentável as florestas são cruciais para o bem-estar do ambiente e das sociedades humanas.Conhecer a oresta desde o solo até às folhas mais altasCompreender o perfil vertical de uma floresta é essencial para compreender a sua dinâmica ecológica, o ciclo de nutrientes, a disponibilidade de habitat e a saúde geral. A floresta começa no solo, local onde as folhas e ramos caem e se decompõem, com diferentes interações entre as raízes, bactérias, fungos e outros seres vivos que criam a rede de suporte para a floresta. É também no solo que se encontram os reservatórios de água - lençóis freáticos - que as florestas utilizam para crescer. No entanto, acima deste, também os diferentes estratos vegetais interagem para criar um ecossistema complexo e interligado que suporta uma vasta gama de outras espécies vegetais e animais.

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frequentemente copas grandes e extensas e necessitam de exposição solar direta. Exemplo: oliveira.– Estrato escandente: tipicamente chamadas de trepadeiras, são plantas que utilizam as árvores do estrato arbustivo e emergente como suporte, permitindo-lhes aceder a mais luz solar e espaço. Exemplo: madressilva.Conhecer os diferentes estratos, conhecer o solo e reconhecer que as plantas – e em especial as árvores – atuam como bombas de água, trazendo a água do subsolo até à atmosfera é fundamental para conseguirmos replicar estes padrões e processos a uma escala menor. E é exatamente isso que se pretende com a parte prática desta atividade!51manual em disseminação | orestasEm diferentes tipos de florestas podem existir mais ou menos estratos, consoante a diversidade e abundância de recursos. No entanto em Portugal podemos, de uma forma simplificada, resumir a cinco estratos:– Estrato herbáceo: consiste em plantas herbáceas, pequenos arbustos e árvores jovens. Estas plantas recebem luz solar filtrada e são importantes para fornecer alimento e abrigo a vários pequenos animais, insetos e aves. Exemplo: alecrim.– Estrato sub-arbustivo: constituído por arbustos mais altos e pequenas árvores. Este estrato proporciona um habitat adicional para aves, insetos e pequenos mamíferos. Alguns animais utilizam os arbustos como locais de nidificação ou como abrigo. Exemplo: esteva.– Estrato arbustivo: composto por árvores mais pequenas e tolerantes à sombra que crescem por baixo das árvores emergentes. Estas árvores adaptaram-se a níveis de luz mais baixos e desempenham um papel na estabilização do ecossistema florestal. Exemplo: medronheiro.– Estrato emergente: inclui as copas das árvores mais altas que se elevam acima do nível geral da copa. Estas árvores têm

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exercício 6.Garrafão orestaMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Tesoura/facaSumário do exercício Nesta atividade pretende-se sensibilizar as crianças para o facto de ser possível criar de material reciclado, sementes diversas e algum engenho, demonstrando a lógica de funcionamento e interações que existem no habitat natural. Assim, irão aprender a desenvolver um vaso que imita a Natureza e que gere a sua própria água, algo funda-mental para a saúde das plantas e para o sucesso das sementeiras e plantações.Material necessário por parte dos alunos– Garrafa ou garrafão de plástico (0,33L; 1,5L ou 5L) – Terra– Sementes ou plântulas diferentes (2-3x) – Tecido 10 x 5cm (garrafa) ou 20 x 10cm (garrafão) – Pedras (opcional) – Folhas para cobertura (opcional)52 manual em disseminação | orestas2.12.23.34.21311 1215ODS Greencomp

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a obter mais alimento;5. Encaixar a parte de cima com a parte debaixo da garrafa ou garrafão; 6. Encher com terra a parte de cima; 7. Colocar as sementes ou plântulas na parte de cima do vaso; 8. Colocar água no recipiente do fundo, até esta tocar no tecido. Esta água vai fun-cionar como a água do lençol freático, que as plantas depois vão usar; 9. Colocar num local com sol, garantir que a água está sempre em contacto com o pano e esperar. Para isso pode levantar- -se a parte superior do vaso, colocar mais água em baixo e voltar a encaixar.Instruções 1. Cortar a garrafa ou garrafão ao meio com a ajuda de uma tesoura ou faca. Tirar a rolha; 2. Encontrar um pouco de tecido já sem utilidade do tamanho necessário – depen-dendo se é uma garrafa ou garrafão – e dobrar (dobrar ao meio e depois dobrar ao meio novamente); 3. Colocar o tecido no local da rolha. É importante o tecido estar bem distribuído – meio fora e meio dentro; 4. Colocar as pedras na parte do fundo da garrafa. As pedras permitem criar uma base mais resistente para o vaso e o cres-cimento de algas, que ajudarão as plantas 53manual em disseminação | orestas

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7.solo e compostagemCiclo dos NutrientesCitando o grande químico francês Antoine Lavoisier, “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.À medida que as folhas ou ramos de uma árvore caem no outono sobre o solo de uma floresta, estas começam a ser decompostas, não só por fatores abióticos – conjunto dos elementos não vivos fundamentais para a sobrevivência dos organismos, tais como o clima, a luz, o solo, fatores bióticos – o conjunto de seres vivos como as plantas, animais e microorganismos. Esta interação permite decompor pedaços de matéria orgânica complexos nos seus constituintes mais simples – nutrientes, sais minerais entre outros – para serem absorvidos pelas raízes da própria planta e esta continuar o seu crescimento. Este movimento de nutrientes e sais minerais, ao longo dos vários elementos que compõem o ecossistema, contribui para um crescimento sustentável, e é conhecido pelo nome de ciclo dos nutrientes. Como vimos atrás, a sobre-exploração humana, a prática de agricultura intensiva e o uso de fertilizantes artificiais no solo tem destabilizado o ciclo de nutrientes, colocando em causa a saúde do solo e a saúde humana.54Objetivos · Compreender o ciclo de nutrientes nas florestas e identificar os principais fatores que ajudam à decomposição da matéria: água e biodiversidade animal e fúngica.· Aprofundar conhecimentos sobre um dos principais responsáveis pela decomposição de matéria orgânica: as minhocas.· Conhecer a estrutura do solo de uma floresta.· Aprender o que é a compostagem, como criar composto e o que podemos e não devemos colocar no compostor.

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Embora seja considerado muitas vezes o “elemento invisível” nos ecossistemas, é fundamental perceber como funciona o solo, o que estamos a fazer de mal e como podemos contribuir para um solo e futuro mais saudáveis.Solo A existência do solo, onde crescem as plantas que conhecemos, provém da ação muito lenta, e durante milhões de anos, de vários fatores – como a chuva, o vento e as diferenças de temperatura, entre muitos outros – sobre uma “rocha-mãe”. A rocha-mãe, ao ser quebrada, por exemplo pela ação instalar pequenas plantas e animais. Estas vão contribuir também para a desfragmentação da rocha (como p.e. pela ação das raízes). Os detritos orgânicos em decomposição, ao caírem sobre o solo, vão criar uma cobertura capaz de reter humidade e facilitar a decomposição da matéria, enriquecendo o solo em nutrientes e sais minerais. Neste processo, o solo torna-se cada vez mais fértil nas camadas superiores, e por isso, cada vez mais favorável à instalação de novas plantas e animais. De uma forma estrutural, é na camada mais superficial do solo que se encontram a maior parte dos nutrientes, camada esta denominada de húmus, cuja riqueza se deve a essa decomposição de restos de animais e plantas. No mundo animal, as minhocas destacam-se no contributo para a fertilidade do solo e a sua dupla ação:– promovem o arejamento do solo, ao escavarem os túneis por onde passam, favorecendo a ventilação das raízes das plantas, a penetração da água das chuvas e a absorção da água e de nutrientes nas raízes;– digerem restos orgânicos (de vegetais e animais), eliminando-os pelas fezes. As fezes, ao sofrerem a ação de bactérias decompositoras, produzem o húmus, um material muito enriquecedor do solo.Por estes motivos, considera-se que os solos que possuem uma grande quantidade de minhocas são muito férteis, favorecendo o desenvolvimento das plantas.Nesta aula, os alunos manuseiam uma amostra de solo com minhocas de forma a perceberem tanto a sua importância como a sua fragilidade.Como sempre, a Natureza ensina-nos. Podemos aprender, com o seu processo de decomposição e criação de solo rico, a transformar os nossos resíduos vegetais como a fruta ou legumes – tal como acontece no solo das florestas – em solo, através de um processo chamado compostagem.CompostagemA compostagem é um processo simples, económico e ecologicamente sustentável para a produção de material rico em húmus – o composto –,55manual em disseminação | solo e compostagemFigura 1

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56 manual em disseminação | solo e compostagemExistem vários tipos de compostores para fazer a compostagem. Podem ser feitos de madeira (fig.2), plástico ou metal, e ter maior ou menor capacidade, consoante o uso que se pretende dar. No geral devem ter aberturas na base, para estarem em contacto com o solo. Se possível, aberturas laterais para arejar e uma tampa para proteger do excesso de vento, chuva, sol e animais. Os compostores podem adquirir-se em algumas lojas ou construir-se, e o seu tamanho reduzido permite que se possam colocar em varandas ou pequenos jardins.Na ausência de um compostor, e tendo um terreno com espaço, pode empilhar-se o material a compostar, dando-lhe a forma de uma pilha/pirâmide, com aproximadamente 2 metros de diâmetro na base e pelo menos 1 metro de altura. Os materiais a utilizar em compostagem podem ter origens diversificadas, podendo ser divididos em “castanhos” e “verdes”, consoante o teor de humidade e a proporção de nutrientes. – Os “castanhos” são ricos em carbono e geralmente mais secos, como folhas secas, resíduos de cortes e podas, palha, etc. Incluem-se o papel ou o cartão, sem tinta. – Os “verdes” são ricos em azoto e geralmente mais húmidos, como folhas verdes, ervas e aparas de relva fresca, restos de vegetais e frutas, borras de café, cascas de ovos, etc. Para uma correta compostagem, convém que a proporção de “castanhos” e “verdes” seja de 25:1. Há, no entanto, alguns resíduos a evitar, como os não biodegradáveis (plástico, vidro, etc.), cozinhados com gordura, carne e peixe, citrinos, ervas daninhas com sementes, areia e carvão, entre outros.Existem várias formas de realizar compostagem em casa e o impacto que esta ação tem sobre o ambiente é muito benéfico porque assim reduzimos a quantidade de lixo e a incineração dos restos orgânicos. A compostagem, tal como plantar ou semear, permite aproximar o humano dos ciclos naturais e simultaneamente responsabilizar pelo impacto real que cada um tem na comunidade. um material orgânico com aspeto de terra, escuro, inodoro e com muitas propriedades fertilizantes. Este processo consiste na ação de microorganismos sobre a matéria orgânica (como restos de preparação de comida ou matérias de jardim) e a sua transformação num excelente fertilizante natural que pode ser utilizado na agricultura, em vasos ou canteiros, tanto em meios rurais como urbanos. Figura 2 - Compostor feito em madeira

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57manual em disseminação | solo e compostagemMaterial necessário por parte dos professores/educadores1ª parte exercício:– Caixa com folhas e ramos– Caixa com folhas e ramos em decomposição– Caixa com composto – Minhocas– Lupas x3– Água– CompostorSumário do exercício Nesta atividade pretende-se que os alunos observem a evolução da decomposição de matéria orgânica; conheçam um dos vegetais de casa e das escolas e como usar na horta.Com este exercício pretende-se que os alunos criem hábitos de separação dos restos orgânicos, em suas casas, e que os depositem no compostor da escola, contri-buindo para o composto que irá ser usado nos canteiros.2.ª parte exercício:– Forquilha x2– Luvas (opcional)– Lona– Baldes x21.22.13.24.11.33.34.22.34.3413211312ODS Greencomp132exercício 7.Minhocas e compostagem

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58 manual em disseminação | solo e compostagemInstruções 1ª parte exercício:1. Mostrar a caixa com ramos e folhas, tal como iríamos encontrar na Natureza;2. Mostrar a caixa seguinte com algumas folhas e ramos decompostos;3. Mostrar a última caixa com composto e 4. Mostrar as minhocas aos alunos, com a opção de poderem mexer e ver à lupa;5. Cobrir a base do compostor com “cas-tanhos” (cerca de 20cm), especialmente com ramos para promover a drenagem;6. Colocar a primeira camada de “verdes” (aproximadamente 10cm); 7. Regar durante 60 segundos;8. Sobrepor aos “verdes”, os “castanhos” (aproximadamente 40cm);9. Regar durante 30 segundos;10. Repetir o processo até altura desejada;11. Revolver, de 2 em 2 meses, misturando as várias camadas;Material necessário por parte dos alunos1.ª parte do exercício:– Materiais “verdes”: restos de vegetais, fruta ou ovos– Materiais “castanhos”: folhas secas, ramos, cartão, papel4 5 6

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59manual em disseminação | solo e compostagemNotasGarantir que a camada superior é sempre composta por “castanhos”, de forma a evitar mau cheiro. Garantir que o composto se mantém húmido.2.ª parte exercício:13. Dois alunos, com ajuda das forquilhas e acompanhados pelos professores, reti-ram o composto do compostor e colocam sobre a lona;14. Os restantes alunos vão pegar no com-posto e passá-lo pela rede, com o balde por baixo, de forma a acumular o compos-15. Quando cada balde estiver cheio, apli-car sobre o solo da horta, para perfazer uma camada até 10 cm. 7 1215

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8.plantação e consociaçõesAprender com as orestasAs florestas são dos bens mais preciosos do nosso planeta. De tal forma que, atualmente, cerca de 2 biliões de pessoas dependem diretamente das florestas e dos seus recursos. As florestas servem de abrigo a cerca de 80% da biodiversidade terrestre do planeta e a 300 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões são indígenas. Se desde o aparecimento do ser humano, as florestas têm sido utilizadas para garantir a sua sobrevivência, elas fornecem outros serviços “invisíveis”, tais como a proteção dos rios e lagos, do solo, ou para abrandar o impacto das da atmosfera. Em superfície, as florestas ocupam a segunda maior parte da superfície da terra, a seguir à água dos mares e dos lagos, e é fundamental para a sobrevivência e bem-estar do planeta.Quando olhamos para uma floresta, conseguimos perceber que é composta por várias espécies, que ocupam diferentes estratos e crescem policultura. É muito raro encontrar na Natureza locais que estejam apenas dominados por uma espécie – monocultura (fig.1) – indicador de um desequilíbrio no habitat ou ecossistema.60Objetivos · Explorar a importância das florestas e o que podemos aprender com elas.· Aprender os conceitos de espaços biodiversos, monoculturas e policulturas.· Introduzir o conceito de consociação e aplicar na horta.

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61Através de milhões de anos de evolução, a Natureza ensinou-nos que quanto mais diversidade existir, mais resiliente e resistente o sistema se torna a perturbações do exterior. Agricultura inspirada na NaturezaOs grandes sistemas de produção agrícola mundial tendem, na sua grande maioria, a desprezar o papel que a presença de outras plantas e de outros animais podem ter na saúde das plantas, bem como na capacidade de regenerar os solos.“professoras”, das quais podemos aprender ao observar. Práticas como a Agricultura Biológica, a Permacultura ou a Agroflorestaesse exercício de observar a Natureza e as relações que se estabelecem nos diferentes ecossistemas para integrar esses padrões na criação de espaços humanizados. Um desses exemplos é aplicado no desenho de hortas especialmente ao nível das plantas, através de consociaçõese 3). manual em disseminação | plantação e consociaçõesFigura 1 - Monocultura

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62 manual em disseminação | plantação e consociaçõesConsociaçãoAs Consociações são o conjunto de interações que plantas que estão próximas estabelecem entre si, tal como acontece numa floresta. Estas relações podem ser positivas ou negativas. No exemplo da floresta, ao longo de milhões de anos de evolução, certas espécies de plantas conseguiram encontrar formas de cooperar, obtendo benefícios no seu desenvolvimento e sobrevivência, em vez de competirem por água, nutrientes, espaço ou luz. Numa analogia com as espécies da horta, se as alfaces crescem para o lado e os tomateiros crescem para cima, estas duas espécies podem ser plantados lado a lado por não competirem pelo mesmo espaço ou luz. Conhecendo as melhores consociações pode-se promover o crescimento e a sobrevivência das espécies, fomentando a diversidade. Após vários anos de trabalho com as espécies hortícolas, começou-se a perceber estas dinâmicas. Algumas dessas interações estão sintetizadas na tabela de consociações (página seguinte), ferramenta muito útil na Figura 2 - Horta com consociação de plantasFigura 3 - Horta biodiversa aproveitando as consociações

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63manual em disseminação | plantação e consociaçõesFigura 2 - Tabela de consociaçõesacelgaaipoalfacealhoalho-francêsbatatabeterrabacebolacenouracouveervilhaespinafrefeijãomilhomorangonabopepinorábano e rabanetetomateacelgaCONSOCIAÇÃOENTRE HORTÍCOLASaipoalfacealhoalho-francêsbatatabeterrabacebolacenouracouveervilhaespinafrefeijãomilhomorangonabopepinorábano e rabanetetomatefavoráveldesfavorável

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exercício 8.Plantação e sementeira em consociaçãoMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Imagens com hortas biodiversas– Imagens das espécies a plantar/semear, impressas em cartão 6x6cm– Tabela de consociações– Caixa ou alguidar com terra (1 por grupo)– Fio-de-prumo ou cordel– Plântulas– SementesSumário do exercício Pretende-se que os alunos compreendam, de forma prática, como podem utilizar o espaço do canteiro para promover maior biodiversidade e produção da sua horta. Deseja-se que consigam transpor a tabela de consociações para a prática, projetan-do o desenvolvimento de cada planta e da horta. Ao mesmo tempo aprendem os cuidados a ter ao plantar e semear direta-mente no solo.Instruções1. Inspirar os alunos, mostrando várias imagens de hortas biodiversas com dife-rentes formas e cores;2. Dividir a turma em grupos de 5-6 alunos e dar 1 tabela de consociações, um conjunto de imagens das espécies e 1 alguidar com terra a cada grupo;3. Durante 10-15 min, o grupo deve ob-servar a tabela de consociações e negociar quais as espécies a plantar/semear;as várias linhas do esquema de plantação no canteiro;5. Coordenar, para cada turma, as espécies 64 manual em disseminação | plantação e consociações323.11.23.24.11.33.34.22.34.341321131215ODS Greencomp

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vegetais que vão plantar ou semear, de forma a que o canteiro seja uma construção por parte das diferentes turmas da escola;6. Dividir a turma em grupos, metade res-ponsável por semear e outra por plantar. Trocar após 10 minutos;7a. Quando a plantar, garantir que é feito um buraco do tamanho da raiz da planta. Ao colocar no buraco, tapar bem a raiz e pressionar levemente na base do caule da planta;7b. Quando a semear, fazer um buraco que corresponda a duas ou três vezes o diâme-tro da semente. Tapar sem pressionar;8. Regar levemente em aspersão, de forma a evitar alta pressão no solo.65manual em disseminação | plantação e consociações7a4657b

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9.manutenção, água e manta-mortaCiclo da Horta e ManutençãoOs trabalhos na horta são geridos pelas estações do ano, em função da temperatura, número de horas de sol e disponibilidade de água em cada um desses períodos do ano.Tipicamente uma horta começa pela preparação do solo na altura do outono, removendo plantas indesejadas, a que chamamos de plantas espontâneas e que cresceram durante o verão. Muitas destas plantas nascem espontaneamente nas hortas e, apesar de não causarem qualquer malefício ambiental e fazerem parte dos sistemas naturais, competem pelos nutrientes, pela água que encontram no solo e pela luz com as plantas que queremos produzir. Assim, é comum arrancarem-se do solo das zonas de cultivo. Depois de removidas as plantas, adiciona-se ao solo o composto ou outros nutrientes (através de estrume curtido, café ou outros produtos ricos em azoto). O solo pode ficar alguns meses a incorporar essa matéria, podendo ser semeadas espécies adaptadas para crescer no outono/inverno. Quando as geadas começam a diminuir, passado o pico do inverno, colocam-se as culturas de Objetivos · Compreender o ciclo de uma horta, as tarefas de manutenção e os seus ciclos.· Entender que a água é um recurso cada vez mais escasso, especialmente em Portugal, e pensar em conjunto como a utilizar de forma equilibrada. · Aprender com a Natureza como usar a água, de forma mais eficiente, numa horta.· Promover a economia circular com a utilização de resíduos urbanos para a cobertura do solo com manta-morta.· Aprender a aplicar manta-morta no canteiro para proteger o solo da erosão e tornar o uso da água na horta mais eficiente.66

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como pragas, biodiversidade e, principalmente, a água. A água é essencial para a saúde das plantas e precisa ser usada de forma correta para garantir uma boa colheita. ÁguaA água é essencial para a vida na Terra! Ela cobre 71% do nosso planeta, mas a maior parte (96,5%) é água salgada dos mares e oceanos. Apenas 3% da água do planeta é doce, e é essa que usamos para beber, regar as plantas e para muitos outros fins.O ciclo da água (fig.2) pode-se simplificar em quatro passos, todos eles afetadas pelo sol: 1. Evaporação e transpiração por parte das plantas, dos animais, dos materiais e das massas de água como rios e oceanos, por efeito da luz solar;2. Condensação quando, por diferenças de pressão e temperatura nas camadas superiores da atmosfera, a água sobe e forma as nuvens;3. Precipitação quando ocorre a deposição de água vinda das nuvens primavera/verão e colhem-se algumas hortícolas de inverno.No entanto, durante todas as estações, existem tarefas que se devem fazer com regularidade – diga-se, no máximo de duas em duas semanas – que ajudam a garantir a saúde do espaço e a sua produtividade. É importante ir à horta com regularidade para, entre muitas outras razões:– Observar: ver se existem alimentos ou sementes para colher, tocar no solo e compreender se está húmido, procurar doenças – algo que vai ser explorado mais à frente – entre muitas outras coisas.– Mondar: da mesma forma que no início, é importante ir removendo ativamente espécies vegetais indesejadas, para que estas não se alimentem do composto ou condicionem a exposição solar para as plantas com interesse (fig.1).– Plantar ou semear: adicionar alguma planta ou semente à policultura do canteiro.– Cuidar do compostor: adicionar matéria orgânica, regar e revirar para acelerar o processo de compostagem.Para manter uma horta saudável existem muitas tarefas de manutenção, Figura 1 - Uma das plantas que queremos proteger, a alface Figura 2 - Ciclo da águamanual em disseminação | manutenção, água e manta-mortacondensaçãoprecipitaçãoevaporaçãotranspiração67

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68 manual em disseminação | manutenção, água e manta-mortana superfície terrestre (sob a forma de chuva, granizo ou neve);4. Infiltração no solo, sendo aproveitada pelas plantas e animais terrestres e escorrência de água pela superfície terrestre, percorrendo os rios de volta para os oceanos, dando início a um novo ciclo.Devido às alterações climáticas, desflorestação, agricultura intensiva, entre outras causas, tem-se assistido a uma mudança abrupta no ambiente, com consequências reais para as pessoas. Uma das mais óbvias é a diminuição de precipitação em regiões como a do Mediterrâneo, e Portugal um dos países mais afetados.Em Portugal, uma diminuição de precipitação tem vindo a acontecer ao longo de várias décadas (fig.3), com anos mais quentes e secos que anteriormente. Segundo dados da Pordata (fig.4), em Lisboa, no ano de 1960 registaram-se 984,1mm de chuva e, em 2021, apenas 439,1mm. Não devemos fazer uma comparação direta entre estes valores pois a precipitação variou ao longo deste período. No entanto, podemos observar no gráfico que, desde 2010, a precipitação tem vindo a Figura 4 - Precipitação total. Indicador: Lisboa. Fonte: (Pordata, 2023)Figura 3 - Temperatura média do ar e precipitação em Portugal continental entre 1941 e 2022. Fonte: (IPMA, 2023)

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Referências IPMA (2023). Boletim Anual. Resumo. IPMA. Consultado a 3 de fevereiro de 2023, em: https://www.ipma.pt/pt/media/noticias/documentos/2022/Resumo_Climatologico_Ano2022_2.pdfPordata (2023). Precipitação total. Pordata. Consultado a 3 de fevereiro de 2023, em: https://www.pordata.pt/portugal/precipitacao+total-1070-1019769manual em disseminação | manutenção, água e manta-mortadiminuir ano após ano, o que preocupa a sociedade e em particular os que vivem da terra, e da água, como os agricultores.Na horta, é importante adotar estratégias que promovam a biodiversidade, mas também que conservem a água. Na sequência dos capítulos anteriores deste manual – sobre composto e as combinações de plantas que podem ajudar o agricultor a ter uma horta mais saudável – aborda-se agora uma técnica muito simples, com grandes resultados, e muita água para a horta: a manta-morta.Manta-mortaAo olharmos para o solo de uma floresta, como fizemos anteriormente, vemos que por cima do solo existe uma rica camada de folhas e ramos – a manta-morta –, que mais tarde se irá decompor e criar aquilo a que chamamos de composto (ver 5. Solo e compostagem). Enquanto as folhas e os ramos não se decompõem, a manta-morta tem as funções de: – Proteger o solo do vento, da erosão e da desertificação;– Evitar a evaporação da água, mantendo humidade no solo – tão importante não só para a decomposição como para a vida do solo.Na horta podemos adotar este conceito, com funções semelhantes:– Proteger o solo do vento, da erosão, da desertificação, tal como na floresta;– Dificultar o aparecimento das espécies espontâneas;– Diminuir a rega, uma vez que a manta-morta ajuda a manter a humidade no solo por vários dias.A colocação de manta-morta ou o uso de espécies vegetais complementares e que produzem muita matéria orgânica – p.e. espécies de folha caduca – são características chave para a agricultura do presente e do futuro.

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exercício 9.Monda e manta-mortaMaterial necessário por parte dos professores/educadores1.ª parte exercício– Balde ou lona (opcional)– Luvas (opcional)2.ª parte exercício– Manta-morta (palha sem sementes, aparas de madeira, folhas secas)Sumário do exercício Nesta atividade pretende-se promover uma maior imersão no espaço da horta, para que os alunos compreendam o ciclo de tarefas a executar na horta. Associada -tencia o bem-estar dos alunos. Propõe-se a monda de espécies indesejadas – colocan-do os restos no compostor – e a aplicação de manta-morta sobre o solo, num exercí-cio de cuidado e precisão, mas também de preparação da horta para os períodos mais quentes e secos. A manta-morta aplicada é resultante de resíduos de uma empresa de Lisboa, promovendo-se uma economia circular e de recursos.Instruções 1.ª parte exercício1. Observar a horta, com os alunos, cha-mando a atenção para quais as espé-cies espontâneas indesejadas e explicar porque devem ser removidas;2. Dividir os alunos, em 4 grupos, em que as plantas numa parte da horta;3. Colocar as plantas removidas num balde ou lona e levar para o compostor;4. No compostor, colocar os restos vege-tais (verdes), intercalando com folhas, ramos ou cartão (castanhos).70 manual em disseminação | manutenção, água e manta-morta3.11.23.24.11.34.22.34.341311ODS Greencomp

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2.ª parte exercício5. Com os alunos ainda em 4 grupos, dis-tribuir a manta-morta;6. Cobrir as zonas, onde foi realizada a monda, com manta-morta. É importante que a camada de manta-morta tenha pelo menos 5 a 10 cm de altura, uma vez que abate bastante rapidamente;7. Regar (opcional, dependendo do estado do tempo).71manual em disseminação | manutenção, água e manta-morta5 67

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10.consumo de proximidade(a importância das cadeias curtas de abastecimento)Todos nós viajamos. A pé, de carro, de comboio, barco ou avião. Quanto mais longe viajamos, maior a necessidade de viajar num transporte. E na sua maioria, os transportes usam combustíveis fósseis como a gasolina ou o gasóleo. Os alimentos também viajam e quanto mais longe é a sua origem, maior vai ser a viagem e a necessidade de utilizar combustíveis fósseis. Estes, por sua vez, têm um impacto negativo no ambiente, uma vez que a sua utilização resulta na libertação de monóxido de carbono, de dióxido de carbono e de outros compostos nocivos para a atmosfera, responsáveis pelo aquecimento global e alterações climáticas. Desta forma, quanto mais longa é a viagem de um alimento, maior o gasto de combustíveis fósseis e maior o seu impacto no ambiente. A este impacto chamamos pegada ecológica dos alimentos.A pegada ecológica de PortugalSegundo um estudo desenvolvido pela ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, em parceria com a Global Footprint Network, o consumo de alimentos (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) são as atividades que mais contribuem para a pegada ecológica 72Objetivos · Refletir sobre a relevância da escolha dos alimentos e do seu impacto no planeta.· Aprender a escolher uma alimentação à base de produtos locais e sazonais.· Compreender a pegada ecológica dos alimentos.· Aprender a debater e apresentar/justificar os resultados alcançados.

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3. Adotar um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, focado na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação.Estas ações podem reduzir significativamente a pegada ecológica de Portugal e promover um futuro mais sustentável.Qual a tua pegada?Se queres conhecer o impacto das tuas escolhas diárias no planeta, a Global Footprint Network desenvolveu um instrumento onde podes medir a tua pegada ecológica (https://www.footprintcalculator.org/home/pt). Podes avaliar os teus hábitos de consumo de alimentos, energia e recursos naturais e é também uma oportunidade para aprenderes em como os reduzir, para um futuro mais sustentável.73de Portugal. Um outro estudo, sobre a Economia do Bem-Estar da Eurostat, refere que consumimos cerca de três vezes mais proteína animal do que deveríamos e menos legumes, frutas e leguminosas, favorecendo na nossa escolha alimentos com maior pegada ecológica. Como podemos inverter esta tendência?Segundo a ZERO, devemos apostar em agricultura sustentável (com alimentos de qualidade, em circuitos curtos e preservação dos solos); reduzir as deslocações, incentivar ao uso da bicicleta e regulamentar produtos e serviços sustentáveis.E cada um de nós pode fazer a diferença. Para isso, basta alterarmos hábitos de consumo, como por exemplo:1. Consumir mais vegetais, frutas e leguminosas conforme a roda dos alimentos. Reduzindo a proteína animal na alimentação reduzimos o impacto ambiental e com melhorias para a saúde.2. Usar transportes coletivos, bicicletas, caminhar e substituir viagens de avião por videoconferências.manual em disseminação | consumo de proximidade

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exercício 10.As voltas que a comida dáMaterial necessário por parte dos professores/educadorescarne, peixe e vegetarianas. tem um ingrediente, maior será a sua pegada ecológica. Por exemplo, as batatas provenientes de Loures têm uma pegada ecológica reduzida (1 gota de água) e as batatas provenientes do Canadá têm uma pegada ecológica grande (5 gotas de água).Descrição dos pratos disponíveis nas Pratos de carne: Costeletas de porco acompanhadas com arroz basmati e cenouras salteadas Sumário do exercícioEm grupo, os alunos vão ter de escolher uma refeição de carne, peixe e vegetaria-na, tendo em conta o conhecimento das distâncias percorridas pelos alimentos e o sabor de cada refeição. Pretende-se gerar o debate e a exposição de argumentos que --para a redução do seu impacto no planeta. vs Menu hambúrguer no pão com batata frita vs Pernas de peru do campo com batatas no forno e salada de cenouraPratos de peixe: “Douradinhos” de pescada com massa fusilli e salada de tomate vs Lulas recheadas acompanhadas por arroz carolino e salada de cenoura vs Medalhões de pescada com batatas, cebolas, cenouras e brócolos salteados no fornoPrato vegetariano: Hambúrgueres de grão em maionese, acompanhados com batata-doce e salada de cenoura vs Alho-francês à Brás acompanhado com 74 manual em disseminação | consumo de proximidade1.13.11.22.13.24.11.32.23.34.22.34.34131131215ODS Greencomp

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têm pouco impacto (um ponto em cada cri-tério) e por isso tem uma pegada ecológica reduzida (uma gota de água). As batatas provenientes do Canadá têm grande impac-to em cada um dos critérios (cinco pontos em cada critério) e por isso a sua pegada ecológica é grande (cinco gotas).Instruções1. Apresentação dos facilitadores e dos alunos. Cada aluno diz o seu nome e o sítio que se lembra de ter visitado mais distante de Lisboa – em Portugal ou no estrangeiro. Depois de explicar a relação entre as distâncias percorridas pelos alunos e as distâncias que os alimentos (não processados) percorrem desde que são produzidos até ao prato, os facilitado-res explicam as regras básicas do jogo;2. Os alunos são distribuídos em 4 grupos refeições de carne, peixe ou vegetarianas;salada de tomate vs Tagliatelle com cogumelos e molho de natas acompanhado por brócolos e cenou-ras gratinados no forno– 4 baralhos de cartas com os ingredien-tes utilizados na confeção das refeições de carne, peixe e vegetarianas apresentadas . Em cada carta apresenta-se, além das gotas de água (correspondentes à sua pegada ecológica), três critérios utilizados para o cálculo da pegada ecológica do ingrediente: distância, transporte e armazenamento. A cada critério é dada a pontuação entre um e cinco pontos. Quanto mais pontos tem cada critério, maior o seu impacto. Por exemplo, as batatas provenientes de Loures 75manual em disseminação | consumo de proximidade

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76 manual em disseminação | consumo de proximidadede carne, peixe e vegetariana, e sua jus-sequencialmente 3 pratos diferentes. Primeiro os pratos de carne, depois o com referência à origem dos produtos e a aferição de quais os pratos que os alunos mais apreciam. Cada grupo escolhe o seu 2.2. Os alunos mais velhos (6º ano) rea-lizam a primeira escolha como descrito para os alunos do 2º ano. Nesse momento é-lhes explicado como é feito o cálculo do valor ambiental da sua escolha, com o apoio do baralho de cartas com os crité-rios utilizados para o cálculo da pegada ecológica do ingrediente: distância, transporte e armazenamento. Depois os alunos deverão fazer um prato de carne, peixe e vegetariano a partir da sua conju-gação de três ingredientes disponíveis no baralho. Ganha o jogo o grupo que apre-sentar as refeições com menor pegada ecológica e melhor sabor;escolhas à turma;aplicar o que aprenderam e discutir em casa, no momento da escolha dos alimen-tos nas compras em família.Costeletas de porco acompanhadas com arroz basmati e cenouras salteadasCarne de porco EspanhaArroz basmati ÍndiaCenouras congeladas FrançaMenu hambúrguer no pão com batata fritaHambúrguer EspanhaBatatas para fritar CanadáPão de hambúrguer BrasilPernas de peru do campo com batatas no forno e salada de cenouraPeru AlentejoBatatas LouresCenouras Loures“Douradinhos” de pescada com massa fusilli e salada de tomate“Douradinhos” de pescada Costa do Pacífico (Canadá)Massa Fusilli Itália Tomate de estufa MarrocosLulas recheadas acompanhadas por arroz carolino e salada de cenouraLulas SesimbraArroz Carolino Alcácer do SalCenouras LouresMedalhões de pescada com batatas, cebolas e legumes no fornoMedalhões de Pescada NamíbiaBatata de supermercado FrançaLegumes congelados EspanhaHambúrgueres de grão em maionese, acompanhados com batata-doce e salada de cenouraGrão de bico Alcácer do Sal Pão de Mafra MafraBatata doce AljezurAlho-francês à Brás acompanhado com salada de tomate Alho-francês EspanhaOvos caseiros ÉvoraTomate de estufa AlcocheteTagliatelle com cogumelos e molho de natas acompanhado por brócolos e cenouras gratinados no forno Massa Tagliatelle ItáliaCogumelos Torres VedrasNatas Açores

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77manual em disseminação | consumo de proximidade····· ····· ·····distânciadistânciade Lisboaorigemingredientes transporte armazenamento···· ···· ····· ···· ··· ·· ···· · ··· · ······ ····· ·····1700 Km ···· ·· ····· ···· ······· ··· ········ ····· ······ ···· ······· ····· ·········· ····· ·········· ····· ····· ·· ··· · ··· · ·· ·· ···· ·· ··· · ···· ··· ···· ··· ····· ··· ······· ···· ···· ·· ······ ··· ···“Douradinhos” de pescada Costa do Pacífico (Canadá) 8279 Km Massa Fusilli Itália 2500Km Tomate de estufa Marrocos 950 Km Lulas Sesimbra 40 Km Arroz Carolino Alcácer do Sal 68 Km Cenouras Loures 12 Km Medalhões de Pescada Namíbia 11700 Km Batata de supermercado FrançaLegumes congelados Espanha 600 Km Carne de porco Espanha 600 Km Arroz basmati Índia 7700 Km Cenouras congeladas França 1700 Km Hambúrguer Espanha 600 Km Batatas para fritar Canadá 6000 Km Pão de hambúrguer Brasil 7900 Km Peru Alentejo 130 Km Batatas Loures 12 Km Grão de bico Alcácer do Sal 68 Km Pão de Mafra Mafra 40 Km Batata doce Aljezur 240 Km Ovos caseiros Évora 130 KmAlho-francês Espanha 640 Km Ovos de aviário Torres Vedras 46 Km Tomate de estufa Alcochete 35 Km Massa Tagliatelle Itália 2500 Km Cogumelos Torres Vedras 50 Km Natas Açores 2400 Km Brócolos Loures 12 Km · · ·

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11.biodiversidade e refúgios animaisAlterações climáticas e perda de biodiversidadeAs alterações climáticas são o resultado do aquecimento global que estamos a causar ao planeta, com as emissões dos gases com efeito de estufa produzidas pela atividade humana. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ao ritmo atual de emissões de gases de efeito de estufa, o mundo caminha para um aumento da temperatura média entre 2,5ºC e 2,9ºC neste século, quase o dobro da meta ideal. Neste momento, a temperatura média do planeta já está 1,2ºC acima da era pré-industrial, explica o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no seu relatório. Apesar de poder parecer uma alteração ligeira, as consequências são graves, como:– as dificuldades na produção alimentar devido a grandes períodos de seca;– as alterações de temperatura e pH nos oceanos, conduzindo à morte de diversas espécies marinhas;– os problemas sociais com o movimento de populações em massa, pois a terra que têm já não os alimenta;– os problemas económicos, ou mesmo guerras entre países ou 78Objetivos · Explorar o impacto das alterações climáticas na perda de biodiversidade.· Compreender a importância da biodiversidade animal para o planeta.· Aprender a promover a presença dos animais nas hortas e nas cidades.· Promover a criatividade dos alunos com a criação de refúgios para animais, construídos a partir de materiais reciclados.

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regiões por recursos e/ou espaço.Fenómenos como a desflorestação, a perda de biodiversidade, o tráfico animal, a desertificação, a poluição e os gases de estufa contribuíram, e continuam a contribuir intensamente, para as alterações climáticas e para um futuro longe do desejado. A desflorestação, em grande parte provocada pela agricultura intensiva, tem consequências graves para o ambiente e para o ser humano. A remoção das árvores leva à diminuição de abrigo e alimento para a vida selvagem. A desflorestação contribui também para a desertificação dos solos pois afasta plantas e animais que a protegem, deixando-o mais exposto à erosão pelo vento e água. A redução da área de floresta leva também ao aumento do tráfico ilegal de espécies, facilitando a captura e venda de animais selvagens, ao desaparecimento das espécies e à perda de biodiversidade como um todo.Impactos da perda de biodiversidadeSegundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), depois de apenas 28% de todas as espécies conhecidas terem sido avaliadas, mais de 41.000 espécies encontram-se ameaçadas de extinção. Também o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) reportou, em 2022, uma perda média de 69% nas populações de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios desde 1970.Embora muitas das espécies mais conhecidas pelo esforço de conservação sejam maioritariamente mamíferos e aves, a verdade é que o declínio das restantes populações animais se traduz em menos alimento para os mamíferos, aves ou mesmo peixes, conduzindo também à extinção de muitas outras espécies.Cerca de 1/3 dos insetos conhecidos está em vias de extinção Uma das razões deve-se à prática de agricultura intensiva e uso de pesticidas, reduzindo os habitats destas espécies. Outra das razões é o aumento da capacidade de dispersão de patógenos (agente infeciosos, como vírus, bactérias, e outros, capazes de provocar doença no corpo do hospedeiro onde se instalam), com as alterações climáticas. O desaparecimento desta classe animal significa a redução do número de polinizadores. 79manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animaisFigura 1 - Emissões anuais de dióxido de carbono, por regiões do mundo, desde 1750. Fonte: (Ritchie, 2022)

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80 manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animaisComo promover a biodiversidade animal em casa, na horta e nas cidadesA horta é um espaço biodiverso, com diferentes plantas, e por isso uma base para suportar a vida animal. Uma parte da biodiversidade animal fundamental em qualquer horta são os insetos. Existe uma grande diversidade de insetos. Duas formas simples de os ter presentes na nossa horta são:1. Plantar bolbos ou semear flores que atraiam insetos específicos, em função da altura do ano. A joaninha (Coccinella spp.), por exemplo, é atraída por coentros (Coriandrum sativum), salsa (Petroselinum crispum), endro (Anethum graveolens), camomila (Matricaria chamomilla), entre outras.2. Construir refúgios e colocá-los junto à horta e às flores. Uma das grandes dificuldades que os insetos têm nas cidades é o de encontrar um local onde se abrigar. Podem-se construir abrigos simples, com cavidades de diferentes dimensões, utilizando canas, palhinhas ou outro material reciclável. Ao instalar o abrigo, deve-se colocar com Se mais de dois terços das culturas agrícolas mundiais estão diretamente dependentes do trabalho dos insetos, como por exemplo da comum abelha (Apis melifera), sem eles a segurança alimentar mundial fica em risco.A maioria das espécies de anfíbios está também em vias de extinção. Embora sejam uma classe animal menos popular, desempenham funções muito importantes, como por exemplo o controlo de populações de mosquitos (transmissores de doenças e os maiores responsáveis por mortes, a nível mundial).Sempre que desaparece uma espécie desaparecem milhões, e milhões de anos de evolução, de tentativa e erro, de adaptação, de sobrevivência e de função dessa espécie. Segundo a ONU, hoje 55% da população mundial reside nas cidades, por isso, para além de semearmos, plantarmos e cuidarmos podemos também pensar em como integrar ainda mais a biodiversidade animal nos espaços que criamos, também para os e nos proteger. Figura 2 - Emissões anuais de dióxido de carbono desde 1750. Fonte: (Our World in Data, 2022).

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81manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animaisexposição solar para Sul, de forma a terem um local onde nidificar.Para além dos insetos, e mediante as características da horta e do seu espaço envolvente, podemos também atrair outros grupos de animais para completar o ecossistema. São exemplos:– Répteis: para criar abrigo pode-se amontoar diversas pedras num local com o máximo de exposição solar possível. Assim, os répteis como a lagartixa-do-mato-comum (Psammodromus algirus), podem descansar e absorver a luz solar.– Anfíbios: caso a horta esteja localizada num local húmido onde possam aparecer anfíbios, pode-se enterrar uma caixa debaixo da terra, com um tubo a ligar à superfície. Assim, na altura de maior calor, os anfíbios podem entrar pelo tubo e descansar dentro da caixa, debaixo do solo, com temperaturas mais frescas.– Aves: quando existem árvores ou arbustos densos, na envolvente horta, pode-se encher uma caixa de cartão com folhas, ramos, aparas, ou outros elementos e esconder entre os ramos e folhas.ReferênciasOur World in Data. Consultado a 3 de fevereiro de 2023, em: https://ourworldindata.org/Ritchie, H. (2022). Living Planet Index: what does an average decline of 69% Our World In Data.Org. Consultado a 3 de fevereiro de 2023, em: https://ourworldindata.org/living-planet-index-decline

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82 manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animais2ª parte exercício:– Cordel– Pedras– Palha ou folhas secas– Alimento para aves– Canas de vários diâmetros– Gaveta ou caixa antiga– Pinhas (opcional)– Tintas (opcional)– TesourasMaterial necessário por parte dos professores/educadores1ª parte exercício:– Sementes ou plântulas de: coentros (Coriandrum sativum), salsa (Petrose-linum crispum), camomila (Matricaria chamomilla), endro (Anethum graveolens), funcho (Foeniculum vulgare), manjericão (Ocimum basilicum), tomilho (Thymus vulgaris), oregãos (Origanum vulgare), cosmos (Cosmos bipinnatus), erva-cidreira (), entre outras.Sumário do exercícioEsta atividade pretende sensibilizar para a importância e vulnerabilidade de várias espécies animais ao ocuparem espaços ou nichos ecológicos na cidade, bem como re-fúgios na mesma. Para tal, os alunos cons-troem refúgios para répteis, insetos e aves, utilizando materiais reciclados, promoven-do a economia circular e a reutilização de resíduos.exercício 11.Criação de refúgiosCasulo na folha de sálvia3.11.23.21.33.34.22.34.3413 15ODS Greencomp

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83manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animais2ª parte exercício:Répteis:1. Fazer pequenos amontoados com as pedras, próximo da horta, local para os répteis apanharem sol e se refugiarem.Instruções1ª parte exercício:1. Semear ou plantar estas espécies pela horta e na zona envolvente para atrair animais.Material necessário por parte dos alunos2ª parte exercício:– Caixas de leite– Garrafas de plástico– Caixas de ovos

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84 manual em disseminação | biodiversidade e refúgios animais· Insetos:1. Colocar a gaveta ou caixa na vertical;2. Preencher totalmente o espaço, com canas de diferentes dimensões, pinhas ou mesmo palha, para atrair diferentes insetos;3. Colocar a abertura da caixa virada para sul.· Aves:1. Com uma tesoura criar aberturas nas que as aves consigam entrar;2. Com a tesoura fazer dois furos na parte superior da caixa para passar um cordel de forma a se poder pendurar;3. Colocar palha e algum alimento na base.4. Opcionalmente, pintar a caixa, deixando secar pelo menos 20 minutos;5. Pendurar ou colocar a caixa/ninho numa árvore (caso exista) próximo da horta.

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12.pragas e repelentes naturaisO que são pragas?Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são consideradas pragas as espécies de plantas, animais ou agentes patogénicos, que são prejudiciais. A sua ação pode provocar o enfraquecimento das plantas da horta e a diminuição do crescimento. Pode também criar deformações, obstruções ou a destruição de vasos condutores, de folhas e sementes. Em limite, pode levar à morte da planta. As pragas têm também um grande impacto económico, a nível mundial. Se afetarem a produção agrícola o preço dos produtos aumenta, porque há mais procura do que oferta. As pragas são especialmente prejudiciais em países pobres. Põem em risco a segurança alimentar e saúde das pessoas, mas também porque aumentam o risco de aparecimento de doenças que passam dos animais para o homem, com a busca de alimento em animais selvagens. Estas doenças são também conhecidas por zoonoses.86Objetivos · Aprender o conceito de praga.· Compreender porque as pragas podem aparecer na horta e seu impacto.· Identificar diferentes pragas na horta.· Aprender a lidar com pragas: da prevenção à ação.

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Como lidar com as pragas?Assim como existem diferentes tipos de pragas, existem também técnicas e tratamentos distintos, entre os quais:– Remoção manual: a forma mais exaustiva de remoção de pragas, e bastante eficiente, especialmente durante a noite para os gastrópodes (que agrupa caracóis, lesmas, lapas e búzios).– Calda: existem diversas misturas que se podem produzir, sendo comum o uso de ingredientes como água, cebola, alho ou lascas de sabão azul e branco. Funcionam bem para um grande número de pragas, sendo aconselhável utilizar a espuma da mistura, e não o spray.– Óleo de Neem: é feito à base de óleos essenciais das sementes e frutos da árvore de Neem (proveniente da Índia) e funciona bem para a grande maioria das pragas. Uma vez que é muito eficaz a controlar o crescimento de qualquer tipo de organismo, a sua aplicação tem de ser controlada e localizada, para evitar danos indesejados nas culturas. 87Tipicamente, a invasão de um campo de cultivo por uma praga apresenta 3 fases:– Crescimento exponencial. Com a abundância de alimento específico para a praga, esta alimenta-se e reproduz-se em abundância.– Estabilização. Com a gradual diminuição de recursos alimentares, a reprodução abranda, tal como o crescimento populacional.– Ponto de inflexão (Tipping point). Quando o alimento termina, a praga não se reproduz e verifica-se uma queda abrupta da população, até ao seu desaparecimento.As hortas biodiversas, ou seja, com muitas espécies conseguem evitar alguns dos problemas com pragas porque incluem plantas que atraem os predadores dessas mesmas pragas. Apesar destas hortas serem sistemas mais resilientes, é possível que apareçam pragas e é importante saber o que fazer, quando acontece.Figura 1 - Pulgão, uma das pragas mais comunsmanual em disseminação | pragas e repelentes naturais

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manual em disseminação | pragas e repelentes naturais88– Arejamento: é específico para fungos e serve como medida de prevenção e de ação, diminuindo a humidade do solo e a capacidade de os fungos crescerem.– Cotonete com álcool: aplicar o cotonete mergulhado em álcool no local onde temos a praga, tendo o cuidado de fazer o tratamento localizado para não danificar a restante fauna. Este método é especialmente útil para afídeos.– Fita amarela/armadilhas: muitos insetos, especialmente pulgões, cochonilhas, mosca-branca, mosquitos ou varejeiras, são atraídos pelo amarelo, fincando colados à superfície. – Predadores: a melhor forma de controlo é o biológico. As joaninhas (Coccinella spp.) são excelentes predadores para diferentes pragas como os afídeos (pulgões ou piolhos-das-plantas). Caso as joaninhas não apareçam na horta, podem ser plantadas espécies que ajudam a atraí-las, como o funcho (Foeniculum vulgare), a túlipa (Tulipa spp.), a erva doce (Pimpinella anisum) ou o dente-de-leão (Taraxacum officinale).Figura 2 - Um dos melhores amigos da horta, a joaninha

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89manual em disseminação | pragas e repelentes naturaisMaterial necessário por parte dos professores/educadores– Plantas aromáticas variadas: manjericão (Ocimum basilicum), manjericão-roxo (Ocimum basilicum var. purpurascens), arruda (Ruta graveolens), chá-príncipe (Cymbopogon citratus), alecrim (Salvia rosmarinus), alfazema (Lavandula stoechas), boldo (Peumus boldus), entre outros. camomila (Matricaria chamomilla), cravo-túnico (Tagetes sp.), entre outros.Instruçõesespalhando as sementes por todo o can-teiro, em buracos até três vezes o tama-nho do diâmetro das sementes;2. Plantar aromáticas pelo canteiro, de forma a abranger a maior área possível;3. Regar, por aspersão, para não movimen-tar muito o solo depois da sementeira.Sumário do exercício Nesta atividade, pretende-se que os alunos entendam que a prevenção também é uma forma de lutar contra as pragas, estejam elas já presentes na horta ou não. Ao in-por semente ou plântula, essas plantas irão atrair insetos que são importantes no controle de pragas, como por exemplo as joaninhas.exercício 12-1.Controlo de pragas: Plantação para prevenção3.11.23.21.34.22.34.341321131215ODS Greencomp

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Instruções1. Ferver cerca de 1L de água para cada borrifador (e para 1 cabeça de alho);2. Esmagar/macerar os dentes de alho, com a ajuda do almofariz e pilão, ou prato e garfo;3. Colocar a cabeça de alho na água a ferver e deixar 3 a 5 minutos a repousar;4. Juntar água fria ou gelo;5. Coar para o borrifador;6. Pulverizar a horta, em especial, nas plantas atacadas por animais, como lagar-tas, ou fungos.Receita 1Material necessário por parte dos professores/educadores– 6 borrifadores– Água– Chaleira (ou outra forma de ferver água)– Almofariz e pilão ou prato e garfo (6 de cada)– Coador e/ou funil– Água fria ou gelo Material necessário por parte dos alunos– 2-3 cabeças de alhoSumário do exercício Nesta atividade, pretende-se que os alunos entendam que é possível criar soluções aquosas inseticidas com base em ingre-dientes naturais que temos em casa e pragas, como, por exemplo, os pulgões (Rhopalosiphum maidis). Além disso, os alunos devem compreender que muitos dos repelentes vendidos no mercado são criados com base nos mesmos princípios ativos. Assim, o uso de repelentes caseiros, em vez dos comerciais, tem um impacto praticamente nulo na qualidade de vida das plantas, potenciando o seu desenvolvi-mento saudável.3.11.23.21.34.22.34.341321131215ODS Greencomp90 manual em disseminação | pragas e repelentes naturaisexercício 12-2.Controlo de pragas: Inseticida natural

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91manual em disseminação | pragas e repelentes naturaisNotaOs professores podem preparar estas recei-tas em casa e trazer já prontas, para evitar o tempo de espera do arrefecimento.Instruções1. Colocar o sabão ralado nas tigelas ou ralar na aula;2. Juntar água;3. Com a ajuda das mãos, desfazer o sabão na água;4. Coar para o pulverizador;5. Pulverizar a horta, ou pincelar as plan-tas, em especial, as atacadas.Receita 2Material necessário por parte dos professores/educadores– 1 barra de sabão azul e branco ou sabão de potássio, previamente ralado– Ralador– 1 borrifador– Água – 6 tigelas– Coador e/ou funil

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13 a 15.da horta ao pratoNo âmbito dos objetivos do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), conjugados com a importância de uma educação estética e artística integrada no sistema educativo, as sessões “da horta ao prato” pretendem fomentar valores e sensibilidades em torno do prazer de partilhar uma mesa de refeição, na multiplicidade de emoções e sensações que este ato social pode e deve proporcionar. O ciclo do alimento começa na sua produção, na horta, que é já por si só um ato social, cívico e estético. Estas sessões partem do valioso contributo vivenciado na criação e manutenção das hortas, que são agora um património afetivo e sensível dos participantes.Tomando como fio condutor a conhecida máxima “os olhos também comem”, desenvolvem-se exercícios de expressão plástica na conjugação de alimentos chegados da horta, em função das cores, dos sabores, das formas, dos cheiros, das texturas, da sazonalidade e do equilíbrio nutritivo. O objetivo é também trazer os cinco sentidos para a mesa da refeição, através do trabalho de uma equipa de “cozinheiros artistas” que respeitam a Terra e o que ela nos dá!A atividade desenvolve-se em três sessões sequenciais, com exercícios práticos de expressão plástica:1 – Realização de uma toalha de mesa coletiva, com recurso a tintas alimentares;2 – Realização de travessas/pratos/recipientes para os alimentos, com recurso a materiais recicláveis diversos (ex.: caixas de ovos ou de sapatos);3 – Confeção da refeição, individualmente, em pares ou pequenos grupos e, como grande final, a refeição propriamente dita à volta da mesa/instalação artística.Acresce ainda salientar que qualquer das três sessões poderá ser desenvolvida em sala ou no exterior, em função da logística da escola e das condições climatéricas.92Objetivos · Potenciar competências de trabalho em equipa, com partilha de ideias e de vontades.· Desenvolver competências de planificação e projeto.· Promover a alimentação saudável e sustentável.· Experienciar o ciclo completo do alimento através da manipulação expressiva e criativa dos ingredientes produzidos e observados nas aulas precedentes.· Exercitar a expressão plástica e criativa, individual e coletiva, recorrendo a suporte de grande dimensão (toalha de mesa), materiais recicláveis (materiais diversos para reciclar que são transformados em pratos e travessas), técnicas e conceito de instalação/composição coletiva.· Identificar e exercitar práticas de cidadania e socialização através da partilha de uma refeição à mesa.

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exercício 13.A Toalha de Mesaexplorados ao longo do projeto “Germinar um banco de sementes”, como a horta, as plantas, os frutos, os legumes, etc.Sumário do exercício A mesa é o lugar de honra para a partilha de uma refeição. Vamos valorizá-la crian-do a toalha da mesa, com recurso a uma grande folha de papel de cenário desenro-lada e fixada nas mesas. Estas devem estar arrumadas formando uma única longa mesa, como para um banquete, pincéis/trinchas e tintas fabricadas artesanalmen-te com alimentos diversos, para obtermos diferentes cores. Os desenhos são livres e de concretização coletiva, pois cada de-senho iniciado vai sendo complementado por todos. Tendencialmente, os desenhos são inspirados pelos universos já Material necessário por parte dos professores/educadores- Papel de cenário ou kraft (3 a 5m de comprimento x1m de largura, dependen-do do número de alunos participantes, gramagem mínima de 120gr.)- 6 a 8 Mesas escolares dispostas numa grande mesa- Fita-cola de pintor- Pincéis e trinchas (cerca de 30 ao todo)- Tintas alimentares (previamente prepa-radas e preservadas no frio; 5 ou 6 cores diferentes; dois frascos por cor)- Um ponto de água acessível (para lava-94 manual em disseminação | da horta ao prato1.13.11.22.13.24.11.32.23.34.22.34.34 5ODS Greencomp2 3

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Instruções1. Arrumar as mesas escolares de forma a obter uma longa mesa, tipo banquete;2. Desenrolar o papel de cenário ao longo 3. Vestir os aventais ou roupas protetoras, uma vez que as tintas alimentares podem 4. Distribuir os frascos de tintas previa-mente preparadas, no centro da mesa e no sentido longitudinal, cada um deles com 4 ou 5 pincéis dentro;5. Distribuir os alunos em redor de toda a mesa, com algum espaço de modo a que da atividade)- Vários panos para limpeza do local no - Vassoura e pá para limpeza do local no - Caixotes para lixo separado (plásticos e metais, cartão e papel, orgânico ou outros) Material necessário por parte dos alunos- Aventais ou roupa que se possa sujar95manual em disseminação | da horta ao pratonão tenham os movimentos dos braços e mãos condicionados;6. Esclarecer, em forma de diálogo, as regras para a atividade decorrer bem, com civismo, sem acidentes que comprometam o trabalho e com o objetivo do exercício;7. Iniciada a atividade, o professor dará um sinal a cada 2 minutos para que todos interrompam o desenho e transitem, simultaneamente, de um lugar, deixando o pincel que usavam no respetivo frasco;8. No lugar seguinte, cada aluno continua o desenho iniciado pelo seu antecessor;9. O processo referido no ponto 8 será replicado até que os alunos se encontrem novamente no seu lugar inicial; 4 6

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96 manual em disseminação | da horta ao pratoNotaOs alunos devem ser envolvidos em todo o processo, desde a preparação do espaço, das mesas e dos materiais, até à sua limpe-za e arrumação.10. Terminado o desenho coletivo, é o momento da observação, que se faz em circulação lenta em redor da mesa, man-tendo os lugares relativos em que desen-volveram o desenho. Após esta observa-ção silenciosa poderá ser desenvolvida criar um desenho coletivo;11. Lavar pincéis e mãos, fechar e arru-mar os frascos das tintas, retirar a toalha da mesa com muito cuidado pois o papel húmido tende a rasgar facilmente, e colocá-la estendida no chão para secar e observar com maior distância.8 10

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1.13.11.22.13.24.11.32.23.34.22.34.341013511 12ODS GreencompSumário do exercícioA fabricação das travessas/recipientes para as criações alimentares integram o proces-so, constituindo uma oportunidade de sen-sibilização à reciclagem, ao aproveitamento e transformação da matéria de modo a con-tribuir para a redução do lixo, e de trabalho de expressão plástica tridimensional. 97manual em disseminação | da horta ao pratoMaterial necessário por parte dos alunos- Aventais ou roupa que se possa sujar- Materiais recicláveis diversos: caixas de ovos, de sapatos ou de cereais; tetrapacks; etc. Material necessário por parte dos professores/educadores- Materiais diversos de expressão plástica (10 tubos de cola stickde pintor, 20 tesouras, restos de papéis, tecidos, cordéis, etc.)- Um ponto de água acessível (para lava-da atividade)- Vários panos para limpeza do local no - Vassoura e pá para limpeza do local no - Caixotes para lixo separado (plásticos e metais, cartão e papel, orgânico ou outros)1 4exercício 14.O Prato

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98 manual em disseminação | da horta ao pratoInstruções 1. Preparar duas mesas de apoio à ativida-de, uma com os materiais recicláveis trazi-dos pelos alunos, e outra com os materiais de expressão plástica disponíveis;2. A sala de trabalho pode estar organiza-da em grande mesa coletiva ou em mesas para pares ou pequenos grupos, para rentabilizar o acesso e uso dos materiais de expressão plástica;3. Desenvolver uma breve conversa sobre a importância da redução do lixo e do reaproveitamento e transformação de matéria-prima, preferencialmente com questões abertas do tipo: - Já ouviram falar do problema da 5. Organizar os recipientes concluídos numa mesa grande para observação experiência;6. Arrumar o espaço e os materiais, com a colaboração de todos, e armazenar os recipientes cuidadosamente, porque irão ser utilizados na aula seguinte.NotaOs alunos devem ser envolvidos em todo o processo, desde a preparação do espaço, das mesas e dos materiais, até à sua limpe-za e arrumação.produção de lixo em excesso no planeta? O que sabem sobre o assunto? - Costumam reutilizar lixo em vossa casa? Como? - Têm ideias de como transformar estes materiais que trouxeram de casa em re-cipientes para alimentos a consumir num banquete?4. Distribuir pelo grupo os materiais a transformar, esclarecendo que podem desenvolver o trabalho individualmente, a pares ou em pequenos grupos, gerindo os materiais disponíveis com moderação e cuidado. Neste processo é muito impor-tante promover a partilha e o conceito de qualidade, que deve prevalecer sobre o conceito de quantidade;4 4 5

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1.13.11.22.13.24.11.32.23.34.22.34.3425312ODS Greencomp99manual em disseminação | da horta ao prato para trabalhar os alimentos? Que objetos usamos na preparação da refeição? vamos observar o resultado deste traba-o enorme valor de uma boa refeição partilhada.Sumário do exercícioTemos mesa, temos toalha, temos recipien-tes, temos os alimentos e temos a ideia. Agora é só fazer! Após uma breve conversa sobre a sazonalidade dos alimentos, explo-rar os seus cheiros, sabores, texturas, cores e formas. Em equipas de dois ou três “artis-tas cozinheiros”, projetar o prato do grupo. Para esta atividade é desejável saber com que alimentos da horta poderemos contar. Que alimentos queremos usar? Como vamos moldá-los e conjugá-los? Que bene-pensar, à sociedade? Em que lugar da mesa vamos colocar a nossa travessa/suporte? Que instrumentos vamos precisarMaterial necessário por parte dos professores/educadores- 6 a 8 Mesas escolares dispostas numa grande mesa- Toalha de mesa realizada na aula 1- Recipientes realizados na aula 2- Alimentos da horta e mais alguns para complementar, se necessário- 2 alguidares com água limpa para lavar os alimentos- Utensílios de cozinha diversos para trabalhar os alimentos (facas, colheres, raspadores, paus de espetadas em madei-ra, palitos, etc.)- Um ponto de água acessível (para 31exercício 15.O Banquete

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100 manual em disseminação | da horta ao pratomanipulação e uso dos utensílios e sobre a importância de trabalhar na cozinha de forma planeada, organizada e serena;4. Em redor da mesa, com os seus pares ou pequeno grupo, realizar o seu projeto gastronómico, tendo bem presentes as regras e metodologia sobre as quais já conversaram, até para a construção da horta;5. Uma vez concluídos todos os pratos, é o momento de limpar e arrumar, para preparar a mesa do banquete;6. Breve conversa sobre o conceito de instalação artística coletiva seguida da sua realização;Instruções 1. Preparar uma mesa grande para a ati-vidade, idêntica ao do exercício 11, com os alimentos, ingredientes e alguidares de lavagem, dispostos ao longo da zona central da mesa, e tábuas de cozinha e utensílios distribuídos pelos lugares em volta da mesa;2. Distribuir, pelos autores, os recipientes realizados no exercício 12, já organizados em redor da mesa;3. Desenvolver uma breve conversa sobre a alimentação saudável, sazonalidade dos alimentos, os seus cheiros, sabores, textu-ras, cores e formas, como se podem moldar e conjugar, que cuidados devemos ter na sua lavagem de mãos e limpeza do local no - Vários panos para limpeza do local no - Vassoura e pá para limpeza do local no - Caixotes para lixo separado (plásticos e metais, cartão e papel, orgânico ou indiferenciado)4 54

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NotaOs alunos devem ser envolvidos em todo o processo, desde a preparação do espaço, das mesas e dos materiais, até à sua limpe-za e arrumação.101manual em disseminação | da horta ao prato10. Banquete! Fruição artística e gastro-nómica. Partilha, degustação, prazer, con-vívio. Como se pode organizar a refeição? Quais serão as regras para que a refeição seja um prazer para todos? A refeição como um momento de partilha e de estar com o/os outro/outros. Podem sempre convidar outros curiosos da comunidade escolar para este momento: funcionários, pais, colegas ou professores. Bom apeti-te! (não esquecer a limpeza e arrumação 7. Colocar a toalha realizada no exercício 11, na grande mesa já limpa e livre;8. Individualmente, entre pares e peque-nos grupos, decidir a colocação dos res-petivos recipientes com os preparados gastronómicos na toalha, segundo a ideia de uma instalação artística coletiva;9. Cada aluno deve ter o seu guardanapo individual antes de iniciarem o banquete, sendo também fundamental uma breve que levará certamente a uma partilha de do processo de trabalho até este resulta-completo do alimento;98

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16.banco de sementesPlantas, sementes e culturaAs plantas que usamos como base para a nossa alimentação foram, há muito tempo, espécies selvagens que se adaptaram às regiões onde tiveram origem. Há cerca de 10 a 12 mil anos, ainda na pré-história, estas espécies selvagens começaram a ser cultivadas pelo homem, num processo que se pode chamar de domesticação, selecionando plantas com características vantajosas para o ser humano. Guardavam as sementes para, no ano seguinte, ter uma planta ainda mais próxima do desejado. Exemplos das características que contribuíram para o processo de seleção eram: as folhas comestíveis, o tamanho, a ausência de espinhos. Desde então, as diferentes variedades dessa espécie foram disseminadas por todo o mundo através das migrações humanas ou das rotas comerciais. Durante todo este tempo, cada espécie deu origem a diferentes variedades (com características diferentes), que não são mais que adaptações a diferentes climas e condições ambientais, e até mesmo resistência a pragas ou doenças. A estas variedades podemos chamar de ancestrais ou tradicionais. Terá existido, por exemplo, uma variedade ancestral do género Brassica que, com o passar do tempo e com a seleção humana, originou diversas plantas nossas conhecidas como a couve, o nabo, a couve-flor, o rabanete ou a mostarda.O contínuo uso destas espécies, por várias gerações, de pessoas em dado local, contribuiu para criar a base da alimentação dessa população e fortalecer laços com as pessoas e com os seus hábitos. As práticas e as sementes que atravessaram gerações passaram a fazer parte da cultura dos povos através da gastronomia, da medicina, do artesanato e de todo o saber envolvido no cultivo. São exemplos a salsa ou os coentros para cozinhar, o medronho para fazer álcool ou a sálvia para curar feridas.Ameaças às variedades tradicionaisCom a insistência em sistemas agrícolas assentes em monoculturas, o negócio de pesticidas, o uso de espécies geneticamente modificadas e as alterações climáticas, o património de sementes tradicionais está 102Objetivos · Compreender a importância das espécies locais e tradicionais e sua conservação.· Recordar a importância dos bancos de sementes para a conservação e envolvimento comunitário.· Perceber qual a melhor altura para colher sementes e como o fazer.· Aprender a preparar as sementes para guardar (de vagens de leguminosas e de sementes de tomate).· Aprender a preservar as sementes e criar um banco de sementes.

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proprietário delas, podendo recorrer à sua recolha caso os bancos de sementes no seu território tenham sido destruídos. Portugal está entre os contribuintes, tendo já enviado 100 Kg de milho de uma colheita de 1970, que estava armazenado no Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga. Em Portugal, existem também alguns bancos de sementes. O Banco de Sementes A.L. Belo Correia, em Lisboa, é o mais antigo banco de sementes de espécies autóctones, com cerca de 75% das espécies autóctones. O Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga, está dedicado a coleções representativas de germoplasma dos mais importantes recursos agrícolas de Portugal Continental e Ilhas.Germinar um banco de sementesQualquer pessoa pode ajudar a combater o desaparecimento do nosso património genético de variedades tradicionais através da criação ou de apoio a um banco de sementes ou grupos de conservação e partilha. Além de se guardarem as sementes de forma segura, criam-se grupos dinâmicos que, de forma responsável, garantem que as sementes são cultivadas todos os anos, contribuindo para a criação de gerações cada vez mais adaptadas. Acresce também a garantia de que estas variedades continuarão a circular nos nossos pratos, com grandes ganhos nutricionais e gastronómicos, aumentando a soberania alimentar, a sustentabilidade agrícola das nossas comunidades bem como a biodiversidade.Começar desde criança a perceber não só a importância, mas também a fragilidade de algo tão importante como uma semente, é fundamental e um dos objetivos do projeto “Germinar um banco de sementes”.Uma semente de cada vez.103a desaparecer. A mudança de comportamento dos agricultores (ao deixarem de guardar sementes dos melhores exemplares e passarem a comprar sementes de variedades selecionadas para tornar mais rentável a produção do ano), dificulta a manutenção deste património genético e é uma ameaça à sua extinção.É cada vez mais importante tomar conta das plantas e das sementes que temos, guardando criteriosamente as melhores sementes, das melhores plantas de cada ano e trocando entre vizinhos, para que nenhuma destas plantas adaptadas a cada região se perca. É também essencial não esquecer que, dependendo da espécie e das condições em que são guardadas, elas perdem a viabilidade ao fim de um ou alguns anos. Assim, uma variedade de fruta ou legume pode desaparecer para sempre caso desapareçam as plantas e não existirem sementes guardadas, o que é uma grande perda, quer para o ambiente quer para o ser humano. Só cuidando e protegendo estas variedades, através da plantação e recolha de sementes ou evitando cruzamentos com outras variedades, é possível propagar e aprimorar as variedades tradicionais.Bancos de sementesTal como abordado anteriormente, embora a melhor forma de garantir a sobrevivência de uma espécie vegetal seja deixá-la continuamente realizar o seu ciclo – desde a semente, germinação, planta, flor, fruto e novamente semente que cai no solo – as diferentes ameaças acima referidas fazem com que bancos de sementes sejam uma forma excecional de evitar a extinção das variedades tradicionais, ou mesmo de outras espécies vegetais que se encontrem perto da extinção.Atualmente, o Banco Mundial de Sementes em Svalbard, no Ártico, é um dos bancos de sementes mais importantes do mundo, conservando a maioria das espécies de plantas, para garantir a diversidade genética das culturas. Neste local, mais de um milhão de espécies e variedades de sementes essenciais à nutrição humana e animal são armazenadas, em prateleiras, dispostas ao longo de grandes pavilhões. As sementes são mantidas a uma temperatura constante de -18°C e a 150 metros de profundidade. Cada país do mundo pode enviar as suas próprias sementes e manter-se manual em disseminação | banco de sementes

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Material necessário por parte dos professores/educadores 1ª parte do exercício:– Plantas com vagem para colher sementes– Tesoura poda (opcional)– Luvas (opcional)– Saco/Caixa x espécieSumário do exercício Nesta atividade pretende-se que os alunos aprendam como e quando colher as semen-contribuírem para um banco de sementes. A atividade foca-se em plantas com vagem e com polpa (como é o caso do tomate, que necessita de passar pelo processo de fermentação). Pretende-se também que os alunos entendam o fechar do ciclo do pro-jeto e a passagem do testemunho para os alunos do próximo ano, que irão semear os canteiros com as sementes por si recolhi-das. A 1ª parte do exercício é realizado no exterior e a 2ª parte, em mesas, no interior ou exterior.2ª parte do exercício:– Frascos (1 por planta ou semente)– Tesoura de poda– Lupas (3 no total)– Arroz (opcional)– Tecido (opcional)– Etiqueta por frasco x espécie– Caneta – Sementes – Tomate (1 por aluno)– Faca– Baldes (3 no total)104 manual em disseminação | banco de sementesexercício 16.Criação do banco de sementes3.11.21.32.24.22.34.34132 31215ODS Greencomp

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105manual em disseminação | banco de sementes

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106 manual em disseminação | banco de sementes2ª parte do exercício:Vagens1. Dividir a turma em pequenos grupos;2. Começar a preparar os frascos. Escrever nas etiquetas o nome da planta, escola, turma e data e colá-las nos frascos;3. Com a ajuda dos professores, cortar a porção da planta que contém as sementes prontas a colher;4. Em cima das mesas, separar a semente do resto do material vegetal da vagem, colocando o sobrante num balde;5. Colocar apenas as sementes dentro do frasco;6. Fechar bem os frascos e guardar num local à sombra e fresco. Se possível guar-compostor.NotaPara garantir que não existe humidade no frasco, pode-se colocar um pequeno saco com arroz dentro uma vez que o arroz é higroscópico (absorve a humidade).Instruções1ª parte exercício:1. Observar e selecionar as plantas que têm sementes e quais estão mais secas;2. Com a mão ou com a tesoura de poda, cortar ou retirar a planta da qual quere-mos colher a semente;3. Guardar cada espécie separada, num saco ou numa caixa.

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107manual em disseminação | banco de sementesfrasco limpo e seco. Para reduzir a humi-dade destes frascos, pode-se adicionar uma pequena quantidade de arroz dentro de um tecido. O arroz é higroscópico, i.e. tem a capacidade de absorver humidade;6. Fechar e guardar num local à sombra e ou arca da escola.Tomate1. Cortar o tomate ao meio;2. Retirar as sementes com a mucilagem (substância nutritiva viscosa que envolve a semente inibindo a sua germinação);3. Colocar as sementes e a mucilagem dentro de um frasco durante três dias e deixar fermentar. Pode-se também adicio-nar alguma água à mistura;4. Espalhar as sementes numa toalha de camada. Deixar secar completamente ao ar livre. Isto pode demorar cerca de uma semana ou mais, dependendo dos níveis de humidade;5. Colocar as sementes dentro de um

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109anexos

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ODS:os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável110

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111Objetivo 4 | Educação de qualidadeGarantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos– Garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos. – Promover a aprendizagem ao longo da vida. – Eliminar as disparidades de género na educação. – Garantir que todas as meninas e meninos tenham acesso a cuidados e desenvolvimento de qualidade na primeira infância. – Garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação para os mais vulneráveis, incluindo pessoas com deficiência, povos indígenas e crianças em situação de vulnerabilidade.Objetivo 5 | Igualdade de géneroAlcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e raparigas– Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em todos os lugares. – Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas pública e privada, incluindo tráfico, exploração sexual e outros tipos. – Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades de liderança.Objetivo 6 | Água potável e saneamentoGarantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos– Alcançar o acesso universal à água potável segura e acessível para todos. – Alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados para todos. – Melhorar a qualidade da água reduzindo a poluição, eliminando o despejo de produtos químicos e materiais perigosos.Objetivo 7 | Energias renováveis e acessíveisGarantir o acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis e modernas para todosObjetivo 1 | Erradicar a pobrezaErradicar a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares– Erradicar a pobreza em todas as suas formas. – Erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares. – Reduzir pelo menos pela metade a proporção de homens, mulheres e crianças de todas as idades que vivem na pobreza. – Implementar sistemas e medidas de proteção social nacionalmente apropriados para todos. – Garantir que todos têm direitos iguais aos recursos económicos e acesso a serviços básicos. Objetivo 2 | Erradicar a fomeErradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável– Erradicar a fome em todo o mundo. – Garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano. – Acabar com todas as formas de desnutrição. – Garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos. – Implementar práticas agrícolas resilientes que aumentem a produtividade e a produção e que ajudem a manter os ecossistemas.Objetivo 3 | Saúde de qualidadeGarantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades– Garantir saúde e bem-estar para todos. – Reduzir a taxa de mortalidade global. – Acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos. – Erradicar as epidemias de HIV, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas. – Promover a saúde mental e o bem-estar. – Alcançar a cobertura universal de saúde.manual em disseminação | ODS

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112 manual em disseminação | ODSorigem, religião ou condição econômica ou outra. – Garanta a igualdade de oportunidades. – Reduzir as desigualdades de resultado, eliminando leis, políticas e práticas discriminatórias. Objetivo 11 | Cidades e comunidades sustentáveisTornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis– Construir cidades e sociedades sustentáveis em todo o mundo. – Garantir o acesso de todos a uma habitação adequada, segura e acessível. – Aumentar a capacidade de planeamento e gestão integrados e sustentáveis de aglomerados humanos. – Reduzir o impacto ambiental adverso das cidades, prestando atenção especial à qualidade do ar e à gestão de resíduos. Objetivo 12 | Produção e consumo sustentáveisGarantir padrões de consumo e de produção sustentáveis– Reduzir o desperdício global de alimentos na produção e no consumidor. – Alcançar a gestão ambientalmente saudável de produtos químicos ao longo de seu ciclo de vida. – Reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reutilização. Objetivo 13 | Ação climáticaAdotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos– Tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos. – Fortalecer a resiliência e a capacidade de adaptação aos perigos e desastres naturais relacionados ao clima. – Integrar soluções e medidas de mudança climática nas políticas, estratégias e planeamento nacionais. – Melhorar a educação sobre mitigação das mudanças climáticas, redução de impacto e alerta precoce. – Garantir o acesso universal a energia renovável e acessível para todos. – Aumentar a participação das energias renováveis no mix global de energia. – Reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso à pesquisa e tecnologia de energia limpa. – Expandir a infraestrutura e atualizar a tecnologia para fornecer serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento.Objetivo 8 | Trabalho digno e crescimento económicoPromover o crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos– Garantir o desenvolvimento económico inclusivo e sustentável em todo o mundo. – Alcançar níveis mais altos de produtividade económica por meio da diversificação, atualização tecnológica e inovação. – Alcançar emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos, inclusive para jovens e pessoas com deficiência. – Alcançar salário igual para trabalho de igual valor.Objetivo 9 | Indústria, Inovação e infraestruturasConstruir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação– Garantir a inovação e infraestruturas sustentáveis da indústria. – Desenvolver infraestrutura confiável, sustentável e resiliente que apoie o desenvolvimento económico e o bem-estar humano. – Promover a industrialização inclusiva e sustentável. – Atualizar as infraestruturas e modernizar as indústrias para torná-las sustentáveis. – Apoiar uma maior adoção de tecnologias renováveis.Objetivo 10 | Reduzir as desigualdadesReduzir as desigualdades no interior dos países e entre países– Capacitar e promover a inclusão social, económica e política de todos, independentemente de idade, sexo, deficiência, raça, etnia,

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113manual em disseminação | ODSObjetivo 17 | Parcerias para a implementação dos objetivosReforçar os meios de implementação e revitalizar a Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável.– Revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável – Apoiar a criação de fortes parcerias ODS para atingir as metas ambiciosas da Agenda 2030. – Reunir os governos nacionais, a comunidade internacional, a sociedade civil, o setor privado e outros atores.ReferênciasNações Unidas (s.d.). Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. BCSD Portugal. Acedido 10 de Setembro de 2023. https://ods.pt/ods/Objetivo 14 | Proteger a vida marinhaConservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável– Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos. – Prevenir e diminuir a poluição marinha de todos os tipos, em particular de atividades terrestres. – Gerir e proteger de forma sustentável os ecossistemas marinhos e costeiros para evitar impactos adversos significativos. – Acabar com a sobrepesca, práticas de pesca ilegais, não declaradas e destrutivas.Objetivo 15 | Proteger a vida terrestreProteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda de biodiversidade– Prevenir ameaças à biodiversidade. – Garantir a conservação, restauração e uso sustentável dos ecossistemas terrestres e de água doce, incluindo florestas, pântanos, montanhas e terras secas. – Promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas. – Deter o desmatamento. – Combater a desertificação e restaurar terras e solos degradados. Objetivo 16 | Paz, justiça e instituições eficazesPromover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis– Promover sociedades justas, pacíficas e inclusivas. –Reduzir significativamente todas as formas de violência. – Erradicar o abuso, a exploração e o tráfico e todas as formas de violência e tortura de crianças. – Promover o estado de direito nos níveis nacional e internacional. – Garantir a igualdade de acesso à justiça para todos.

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1141.13.11.22.13.24.11.32.23.34.22.34.3GreenComp:Quadro Europeu de Competências em Matéria de Sustentabilidade

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O GreenComp é composto por 12 competências organizadas em quatro domínios interrelacionados:Incorporar valores de sustentabilidade1.1. Valorizar a sustentabilidadeRefletir sobre os valores pessoais; identificar e explicar a forma como os valores variam entre as pessoas e ao longo do tempo, avaliando ao mesmo tempo, criteriosamente, a forma como se alinham com os valores de sustentabilidade.1.2. Apoiar a equidadeApoiar a equidade e a justiça para as gerações atuais e futuras e aprender com as gerações anteriores em prol da sustentabilidade.1.3. Promover a naturezaReconhecer que os seres humanos fazem parte da natureza e respeitar as necessidades e os direitos de outras espécies e da própria natureza, a fim de restaurar e regenerar ecossistemas saudáveis e resilientes.Integrar a complexidade na sustentabilidade2.1. Pensamento sistémicoAbordar um problema de sustentabilidade de todas as partes; ter em conta o tempo, o espaço e o contexto, a fim de compreender a forma como os elementos interagem dentro e entre sistemas.2.2. Pensamento críticoAvaliar informações e argumentos, identificar pressupostos, pôr em causa o status quo e refletir sobre a forma como os antecedentes pessoais, sociais e culturais influenciam o pensamento e as conclusões.2.3. Enquadramento de problemasFormular os desafios atuais ou potenciais como um problema de sustentabilidade em termos de dificuldade, pessoas envolvidas, tempo e delimitação geográfica, a fim de identificar abordagens adequadas para prever e prevenir problemas, bem como para atenuar e adaptar-se a problemas já existentes.Prever futuros sustentáveis3.1. Literacia sobre o futuroPrever futuros alternativos sustentáveis, imaginando e desenvolvendo cenários alternativos e identificando as medidas necessárias para alcançar um futuro sustentável preferido.3.2. AdaptabilidadeGerir as transições e os desafios em situações de sustentabilidade complexas e tomar decisões relacionadas com o futuro face à incerteza, à ambiguidade e ao risco.3.3. Pensamento exploratórioAdotar uma forma relacional de pensar, explorando e associando diferentes disciplinas, utilizando a criatividade e a experiência com ideias ou métodos inovadores.Agir em prol da sustentabilidade4.1. Agência políticaExplorar o sistema político, identificar a responsabilidade política e a responsabilização por comportamentos não sustentáveis e exigir políticas eficazes para a sustentabilidade.4.2. Ação coletivaAgir em prol da mudança em colaboração com outros.4.3. Iniciativa individualIdentificar o próprio potencial de sustentabilidade e contribuir para melhorar as perspetivas para a comunidade e o planeta.ReferênciaBianchi, Guia; Pisiotis, Ulrike; Cabrera Giraldez, Marcelino (2022). “GreenComp - quadro europeu de competências em matéria de sustentabilidade”. Educação para a cidadania. https://cidadania.dge.mec.pt/greencomp-quadro-europeu-de-competencias-em-materia-de-sustentabilidade115manual em disseminação | GreenComp

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manual em disseminaçãomanual em disseminação